Título: Toma lá, dá cá
Autor: Martins, Elisa
Fonte: O Globo, 27/02/2012, Economia, p. 19

G-20 prepara fundo de US$ 2 trilhões, mas condiciona ajuda a mais aportes de europeus

O G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, está preparando um fundo global de proteção financeira de quase US$ 2 trilhões para controlar a crise da dívida da zona do euro e evitar um dano ainda maior na economia mundial. Mas esse pacote gigantesco - que vai exigir contribuições extras de outros países ao Fundo Monetário Internacional (FMI) - depende inicialmente do apoio da maior economia da zona do euro, a Alemanha, para aumentar os fundos de resgate da União Europeia. O anúncio foi feito após encontro dos ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20, no fim de semana, no México.

Sob forte pressão, autoridades alemães baixaram um pouco o tom nas reuniões, amenizaram sua oposição à ampliação do fundo europeu e, assim, consideraram analisar o plano de socorro em março. Convencer os alemães é fundamental para a aprovação do resgate. Mesmo porque os demais países do G-20 deram um recado aos europeus: se quiserem ajuda para combater a crise, o bloco vai precisar colocar a mão no bolso - e não somente passar o chapéu.

A proposta que está na mesa aumenta o montante do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) para US$ 1 trilhão. E, a partir daí, abre caminhos para que se dobre os recursos de empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para quase US$ 1 trilhão, o que depende de novos aportes de seus países- membros. Juntos, esses esforços somariam cerca de US$ 2 trilhões em fundos de resgate. Os países do G-20 tentam arquitetar esse plano até o fim de abril - quando o grupo se reúne novamente em Washington - e convencer os mercados de que os problemas da zona do euro têm solução. Se concretizado, será o esforço mais ousado desde 2008, quando o G-20 reuniu US$ 1 trilhão na tentativa de cessar a crise global.

- Nós temos que ver a cor do dinheiro da zona do euro primeiro e, sinceramente, isso ainda não acontenceu. Até isso ocorrer, não vai haver recursos extra no FMI do Reino Unido e provavelmente de nenhum outro país - disse o ministro britânico de Finanças, George Osborne, que também vem sendo criticado por causa da estagnação da economia britânica.

Isolada, Alemanha baixa o tom

Autoridades da Alemanha, alvo de críticas de países como Estados Unidos durante o encontro, disseram que o país vai decidir se apoia o fortalecimento do fundo de resgate financeiro em março. A questão estará na agenda de uma cúpula da União Europeia na próxima semana.

- Mas março vai desde o dia 1 até o dia 31. E a dimensão desse mecanismo será revista novamente, à luz dos acontecimentos mais recentes - advertiu o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble.

A disposição de Berlim de discutir o tamanho dos fundos europeus marca uma mudança de tom importante. Enfrentando oposição política em seu parlamento ao segundo resgate à Grécia, a maior economia do continente tem sustentado que uma ampliação dos fundos europeus prejudicaria os esforços para impor a disciplina fiscal aos países endividados. O país - que ficou mais isolado no encontro das nações - vinha defendendo que os atuais pacotes de resgate são mais do que suficientes e que aumentá-los pode indicar aos mercados que a região espera por mais problemas. O abrandamento da postura alemã acontece ao mesmo tempo em que Schäuble diz acreditar que o pacote de resgate grego vai ganhar apoio no parlamento hoje.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os países mostraram "sintonia" sobre a necessidade de aumentar a reserva do FMI não só para o socorro dos europeus, mas também como precaução para os emergentes. O ministro ressaltou, no entanto, que a contribuição dos emergentes está condicionada à disposição dos países europeus para contribuir com a reserva, além de avançar no andamento da reforma de cotas do Fundo, estabelecida em 2010.

- O Brasil não está disposto a colocar mais recursos caso não haja uma continuidade na reforma de cotas. São pontos que devem caminhar concomitantemente.

Preço do petróleo preocupa Lagarde

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, afirmou que é necessário seguir com reformas estruturais para conter os estragos da crise que atinge principalmente a zona do euro. Lagarde afirmou que, apesar dos sinais de recuperação, o perigo ainda não passou, e defendeu que o poder de ação do FMI depende do aumento de recursos do fundo via empréstimos bilaterais, já que a arrecadação através da reforma de cotas estabelecida em 2010 ainda encontra entraves.

- Nenhum dos países do G-20 nega a necessidade de aumentar o fundo. O sistema de empréstimos bilaterais é o mais efetivo. Já foi feito antes e continuamos achando que é o mais eficiente. A reforma de cotas deve avançar antes de junho (quando acontecerá a reunião de líderes do G-20) e ser implantada neste ano.

Lagarde afirmou que os representantes do G-20 reunidos na capital mexicana demonstraram a necessidade de reforçar a vigilância das economias em risco e reforçar as medidas de resgate. Ela mostrou preocupação com obstáculos que comprometem a estabilidade, como os altos níveis de endividamento público e privado e a elevação do preço do petróleo.

O G-20 ainda vê riscos elevados para a economia global e espera que o crescimento este ano seja moderado. No comunicado do encontro, o grupo também alerta para os preços mais elevados do petróleo.

* Especial para O GLOBO