Título: Dilma busca diálogo com a Câmara
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/02/2012, O País, p. 11

Planalto vê projetos empacarem por dificuldades de relacionamento com o presidente da Casa

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff já teve um sinal claro de que, além de um calendário curto de votações por causa da campanha eleitoral, terá que se desdobrar para tornar mais amistosa sua relação com o comando da Câmara. As articulações políticas com os deputados têm esbarrado nas dificuldades de relacionamento entre o presidente da Casa, o petista Marco Maia (RS), e o Palácio do Planalto - a presidente Dilma Rousseff e a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). É mais um embate do PT contra o PT de que oposição e descontentes da base aliada tentam tirar proveito.

Aliados fiéis reclamam também da "visão tecnocrática" da Casa Civil, que, contam, costuma bloquear votações em comissões por discordar de proposições, desconsiderando o fato de que as grandes negociações são feitas diretamente em plenário. É nesse clima de instabilidade, desconfiança e falta de entrosamento entre os operadores políticos do Congresso e os palacianos que o governo vai tentar impor sua agenda de votações. Há um receio, neste momento, de que não se consiga cumprir a meta de aprovar até o fim de abril, na Câmara e no Senado, o projeto que cria o Regime de Previdência dos Servidores Públicos da União (Funpresp).

O governo terá menos de quatro meses, até junho, para votar matérias importantes no Congresso, e para barrar outras matérias, igualmente importantes, que provocam rombos orçamentários, como a do piso nacional dos policiais e bombeiros. Com fevereiro já praticamente perdido, o Palácio do Planalto tem pressa em reconstruir a relação com o comando da Câmara.

As articulações se tornaram mais complicadas após a exposição pública das tensas relações entre Maia e o Planalto, em especial com a ministra Ideli Salvatti. Na semana passada, o governo se irritou com acordo feito na Câmara, patrocinado por ele, para adiar a votação do Funpresp para depois do carnaval. Foi o suficiente para azedar as relações. Tranquilo, Maia negou, antes do carnaval, que haja "tensão" com o Palácio do Planalto e voltou a dizer que decidiu adiar a votação do Funpresp simplesmente porque não havia acordo entre os partidos naquele momento. E assegura que, agora, há compromisso dos partidos, inclusive da oposição, para votar no dia 28.

O segundo projeto de interesse do governo é o que trata do Código Florestal. O compromisso assumido ainda em dezembro é de votar a proposta em 6 e 7 de março. Mas o relator Paulo Piau (PMDB-MG) já se reuniu com Ideli e outros ministros, avisando que os deputados querem fazer dezenas de alterações no texto. O terceiro projeto de interesse do governo é a Lei da Copa, cujo cronograma também está atrasado.