Título: Venezuela sem notícias de Chávez
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Fonte: O Globo, 28/02/2012, O Mundo, p. 26
Em Havana, autoridades mantêm sigilo sobre cirurgia do presidente
CARACAS. Em um clima de incerteza e rumores, os venezuelanos esperaram ontem durante todo o dia por notícias sobre a saúde do presidente Hugo Chávez. Em Havana e Caracas, as autoridades não divulgaram informes médicos e, nem mesmo nas redes sociais, onde o presidente costuma se manifestar com frequência, foi rompido o silêncio.
Até agora, os relatos indicam apenas que a cirurgia seria realizada no hospital Cimeq, o Centro de Investigações Médico Cirúrgicas, em Havana, considerado o melhor do sistema de saúde do país e que já teve o ex-presidente Fidel Castro como paciente. Chávez anunciou que precisaria passar pela terceira cirurgia, prevista para o começo desta semana, depois que os médicos constataram a existência de uma lesão no mesmo local onde havia se tratado de câncer. A ministra da Saúde, Eugenia Sader, nomeada porta-voz do governo para informações sobre a enfermidade, não deu qualquer explicação.
Mensagens de e-mail reveladas ontem pelo WikiLeaks mostram um prognóstico de saúde desolador para o presidente. Os textos fazem parte de um grupo de mais de 5 milhões de e-mails da consultoria de inteligência global Stratford, que fornece serviços para grandes corporações e para órgãos de governo, como o Departamento de Segurança Interna dos EUA, entre outros. No texto, o informante é identificado como uma fonte de qualidade B e apontado como um antichavista. De acordo com a mensagem, o câncer do venezuelano teria se espalhado para outros órgãos e seu estado seria muito sério. O texto afirma ainda que a equipe de médicos do presidente contaria com cubanos, russos e chineses. De acordo com a previsão dos cubanos, o presidente teria mais dois anos de vida. Segundo os russos, apenas um ano. Nenhuma das informações pôde ser comprovada.
Governo reduz preços de produtos de higiene
O informante da consultoria defende ainda que Nicolás Maduro, ministro das Relações Exteriores, seria o aliado com mais chances de suceder o presidente. "Maduro é visto mais como um candidato como Lula. Ele tem carisma, mas também é conciliador", diz a mensagem, datada de 6 de dezembro. A consultoria confirmou que seu sistema foi invadido no fim do ano passado, mas disse que não confirmaria ou negaria o teor das mensagens.
No mercado financeiro, crescem as apostas de que o presidente não participará das eleições, marcadas para o dia 7 de outubro. Relatório de analistas do Citigroup afirma que a chance do presidente não concorrer é superior a 50%. "Essa avaliação praticamente não depende do sucesso da próxima intervenção cirúrgica com o objetivo de remover outro crescimento canceroso , pois seus médicos vão proibi-lo do estresse contínuo ou ele estará muito fraco".
Apesar destas avaliações, o chefe de campanha do presidente e prefeito do município de Libertador, Jorge Rodríguez, realizou ontem a primeira reunião do comando de campanha Batalha de Carabobo e assegurou que o presidente vencerá as eleições.
Em artigo publicado no site Aporrea.org, intitulado "Lealdade ou traição", o irmão de Chávez, Adán Chávez, instiga os defensores da revolução bolivariana a cumprirem o compromisso de luta, ainda que diante de novas e adversas circunstâncias. "Essa lealdade nos levará a ser os melhores soldados que irão para a grande batalha que começa desde já, onde, como disse nosso comandante Chávez: está em jogo nossa independência".
Enquanto isso, o governo venezuelano anunciou novas quedas de preços de produtos como parte da Lei de Custos e Preços Justos, que entrará em vigor no dia 1 de abril. Depois que Chávez anunciou neste ano a queda do preço do desodorante, coube agora ao vice-presidente Elías Jaua anunciar a redução de outros produtos produtos de higiene e cuidados pessoais. A longa lista de 612 preços de produtos mais em conta inclui de creme dental (11% mais baixo) a papel higiênico (11% mais barato) e sabonete (24% menor). Críticos afirmam que a lei, que procura combater margens excessivas de ganhos, pode levar o país a enfrentar desabastecimentos.