Título: Pesquisadores propõem novo modelo de estação
Autor: Baima, Cesar
Fonte: O Globo, 28/02/2012, O País, p. 5

Reconstrução deve seguir padrões modernos e de automação, focados nas questões da segurança e da sustentabilidade

TRAGÉDIA NO GELO

A perda de boa parte da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) em um incêndio na madrugada do último sábado pode ser uma oportunidade para o Brasil repensar seu modelo de ocupação permanente no continente gelado, levando em conta questões como segurança e sustentabilidade, defendem cientistas brasileiros envolvidos nas pesquisas na região.

Jefferson Cardia Simões, diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos veteranos do Programa Antártico Brasileiro, lembra que, quando a base começou a ser construída, nos anos 1980, o país e seus pesquisadores tinham pouca ou nenhuma experiência de atuação em um ambiente polar, cenário que mudou muito nos últimos 30 anos.

- Quando começamos, tivemos que aprender do nada e improvisar. Agora, temos capacidade técnica para ajudar na reconstrução e redesenho da estação para melhor atender as finalidades científicas - disse Simões.

Laboratórios preservados devem servir de embrião

Para Simões, as estruturas que sobreviveram ao fogo, como os refúgios (módulos isolados para casos de emergência) e os laboratórios de meteorologia, de química e de estudo da alta atmosfera, devem servir de embrião de uma nova base mais moderna.

- Ainda bem que esses blocos mais afastados foram preservados do fogo - comemorou. - Eles ajudarão não só no começo da reconstrução como na reestruturação da estação, um processo que vai levar pelo menos dois anos para atingir uma estrutura do nível que tínhamos antes do incêndio.

Simões lembra que, na época do início da construção da EACF, a utilização de contêineres era um padrão para esses tipos de estruturas. Apesar de práticos, eles já não são mais a melhor solução, pois sua parte externa é vulnerável aos efeitos do clima, enquanto a interna, adaptada para proteger do frio intenso, recebe revestimentos e materiais isolantes que geralmente são muito inflamáveis, representando um risco para seus ocupantes.

- Hoje a construção com contêineres não é recomendada - afirmou. - Existem opções melhores do que o modelo obsoleto dos contêineres para estações perto do mar como a EACF, mais sustentáveis e com materiais mais resistentes às intempéries, à ação do oceano e dos ventos.

Segundo Simões, o Brasil deve aproveitar a catástrofe para automatizar sua estação:

- Isso já está acontecendo na maior parte das estações do continente antártico. Com a automação, podemos diminuir consideravelmente a necessidade de as pessoas irem até lá, permitindo que os pesquisadores não precisem ficar tanto tempo na Antártica e possam produzir mais.

Yocie Valentin, coordenadora do Instituto de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais tem opinião parecida.

- Esta pode ser a oportunidade para fazer uma grande modernização e pensar de outra forma a estação brasileira na Antártica - comentou.