Título: Megaoperação do troco
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 10/09/2009, Economia, p. 14

Conjuntura

Quase dois bilhões de moedas novas, além de notas de R$ 2 e R$ 5, passarão a circular nas mãos dos brasileiros nos próximos três meses, segundo previsão do BC

Troco: operação do Banco Central começou a ser preparada em maio e vai custar R$ 120 milhões

O Banco Central montou uma superoperação para facilitar a oferta de troco no país. Além de substituir as notas em péssimo estado de R$ 2 e de R$ 5, vai ampliar em 460 milhões a oferta de cédulas nesses valores e injetar mais 1,4 bilhão de moedas na economia. Essa intervenção, considerada vital pelo governo para resolver problemas de abastecimento no comércio, custará R$ 120 milhões ao BC. ¿Vamos dar um choque de distribuição para aumentar a disponibilidade de moedas e cédulas na economia¿, disse o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles. No ano todo, a fatura do BC com a emissão de papel-moeda chegará a R$ 780 milhões ante R$ 680 milhões de 2008.

A megaoperação começou a ser montada em maio deste ano. O BC pediu aos bancos que passassem a recolher todas as notas de R$ 2 e R$ 5 estragadas. À época, foi acertado que, a partir de setembro, com a Casa da Moeda pronta para suprir a demanda, haveria uma substituição em massa. Como a logística para a troca e distribuição das cédulas e moedas à população (1)é complexa, o BC atenderá, diretamente e gratuitamente, os bancos nas capitais do país em que tem representações. Normalmente, o trabalho é feito pelo Banco do Brasil (BB), que cobra 0,16% sobre o valor entregue às instituições financeiras.

¿Há um esforço concentrado para que todos se engajem¿, afirmou Meirelles. Ele explicou que, onde o BC está ausente e em Salvador e Porto Alegre, localidades em que sua estrutura está impossibilitada de fazer o serviço, o abastecimento de papel-moeda continuará sendo realizado somente pelo Banco do Brasil. Também foi montado um esquema para atender, diretamente, os pequenos comerciantes. Em cada capital, haverá uma agência do BB com kits de R$ 100 em moedas e em cédulas de R$ 2 e R$ 5. Em Brasília e no Rio de Janeiro, onde foi desenvolvido um piloto (com oito atendimentos por dia), esse trabalho será feito em conjunto com o Banco Central.

Os grandes comerciantes vão realizar as trocas por meio de bancos, que terão de sacar, no BC ou no Banco do Brasil, pelo menos 10% em notas de R$ 2 e de R$ 5. Essas cédulas são as que mais se deterioraram, dificultando o reconhecimento das marcas de segurança por deficientes visuais. Elas duram, em média, de 12 a 18 meses. ¿Tudo está programado para ampliar a quantidade e melhorar a qualidade do dinheiro que circula pela economia¿, ressaltou o chefe do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho.

Meirelles garantiu que haverá notas e moedas suficientes para atender aos anseios do comércio. O volume de notas de R$ 2 crescerá 350 milhões ¿ hoje, há 670 milhões em circulação. Já o total de cédulas de R$ 5 passará de 390 milhões para cerca de 500 milhões. O estoque atual de moedas, de 14 bilhões de unidades, dará um salto de 10% (1,4 bilhão). ¿Antes dessa operação, já tínhamos colocado 828 milhões de moedas na economia, com prioridade para as de R$ 0,50 e de R$ 1¿, frisou o chefe do Mecir. Ele lembrou que, desde 2005, a Casa da Moeda não fabrica e o BC não distribui notas de R$ 1 ¿ há, ainda, um estoque de 167 milhões delas circulando pelo país.

1 - Sem balinhas É importante que a megaoperação de saneamento do meio circulante seja reforçada pela população, ao deixar de guardar tantas moedas em casa. ¿O hábito de se pôr moedas em cofrinhos acaba restringindo a oferta e dificultando o troco no comércio. Mas isso tem a ver com o fato de o real ser uma divisa confiável, uma reserva de valor¿, afirmou o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles . A expectativa é que todo o processo de substituição e de ampliação da oferta de moedas e cédulas seja concluído em dois ou três meses. A partir daí, ¿o troco em balinhas¿ será apenas uma opção.

Três turnos na Casa da Moeda André Teixeira/Agencia O Globo - 20/7/01 Casa da Moeda faturará R$ 1,5 bilhão, o dobro do apurado em 2008

A Casa da Moeda está trabalhando a pleno vapor para atender à demanda do Banco Central por mais cédulas e moedas. Em algumas áreas, as máquinas estão funcionando em três turnos, fato pouco comum nesses tempos de crise mundial e baixo crescimento econômico. ¿Estamos operando no limite. Mas o reflexo disso é que vamos faturar R$ 1,5 bilhão neste ano, o dobro de 2008¿, disse Carlos Roberto de Oliveira, diretor-técnico e presidente interino da estatal.

Segundo ele, a empresa passa por uma grande transformação. Depois de ficar quase 30 anos sem receber qualquer investimentos, o que tornou seu parque produtivo obsoleto, finalmente conseguiu os recursos necessários para se adequar aos tempos modernos. ¿Nos últimos anos, todos os nossos projetos de ampliação e modernização foram atropelados por sucessivas crises. Os recursos previstos para investimentos acabavam indo para o ajuste fiscal¿, contou Oliveira.

Neste ano, os desembolsos vão totalizar R$ 300 milhões, dinheiro suficiente para dobrar a capacidade de produção de cédulas, para 3,8 bilhões de unidades, e ampliar de 2,2 bilhões para 2,5 bilhões a oferta de moedas. Os recursos, ressaltou o presidente interino da Casa da Moeda, vieram dos contratos firmados com a Polícia Federal, para a confecção do novo modelo de passaporte dos brasileiros, e com a Receita Federal, para a fabricação dos selos que rastreiam cigarros, cervejas e refrigerantes.

¿Sem medo de errar, ficaremos na vanguarda da tecnologia mundial. Teremos os mesmos recursos usados pela Europa na fabricação do euro¿, destacou Oliveira. Assim, a partir do ano que vem, quando os novos equipamentos estarão instalados, a estatal não só estará apta para cumprir todos os contratos no país, como poderá participar de licitações internacionais. Na verdade, será uma volta ao exterior, pois, até os anos 1980, a Casa da Moeda era exportadora de papel-moeda para a América Latina. No retorno, os mercados prioritários serão a África Subsaariana e a África de língua portuguesa.

A estrutura da empresa será reforçada por pessoal. Em portaria publicada anteontem no Diário Oficial da União, o Ministério do Planejamento autorizou a Casa da Moeda a ampliar seu quadro de funcionários dos atuais 2.150 para 2.449. Dos quase 300 novos cargos, 50 terão de ser preenchidos por anistiados que foram demitidos durante do governo Collor. Em outubro, conforme Oliveira, a estatal deverá publicar edital para a contratação de outras 50 pessoas por meio de concurso. (VN)