Título: BC atua com mais força e dólar sobe 1,24%
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 01/03/2012, Economia, p. 33

Maior alta da moeda no ano foi registrada após autoridade monetária fazer leilões de compra nos mercados à vista e futuro

RIO e BRASÍLIA. O Banco Central (BC) interveio com mais força no câmbio e finalmente conseguiu resultado: o dólar comercial avançou 1,24% ontem, a R$ 1,72, na maior alta do ano. O pregão foi agitado, com dois leilões de compra da divisa e o rumores sobre possíveis novas medidas do governo para evitar a valorização do real. A tarefa de segurar o dólar foi ajudada pelo mercado externo. Após discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Ben Bernanke, o dólar passou a se valorizar perante a maioria das moedas. Ainda assim, o Brasil foi o país onde a moeda americana mais subiu ontem.

O dólar recuou 1,55% no mês passado e, no ano, acumula queda de 8%, maior desvalorização entre os países mais importantes. A queda do dólar é fruto do alívio nos mercados internacionais desde o início do ano, provocado pela atuação dos bancos centrais dos países desenvolvidos e pela recuperação da economia dos Estados Unidos.

O Banco Central Europeu (BCE) fechou ontem uma operação de empréstimo de 530 bilhões para garantir liquidez aos bancos do continente. Com os ativos de renda fixa - mais conservadores e seguros - rendendo menos nos países desenvolvidos, a tendência é os recursos de investidores globais migrarem para ações e para mercados emergentes, como o Brasil. Esse fluxo de recursos têm jogado a cotação do câmbio para baixo.

Ontem, o BC anunciou que, nos três dias úteis da semana do carnaval, o país registrou saída de US$ 1,3 bilhão, mas, até 24 de fevereiro, a entrada acumulada no mês estava em US$ 5,2 bilhões. Em janeiro, foram US$ 7,3 bilhões de entradas. São investimentos estrangeiros diretos, recursos captados lá fora por empresas brasileiras e aplicações para a Bolsa. As intervenções do BC no mercado visam também a conter a expectativa de continuidade dessas entradas.

A moeda americana abriu o pregão em queda (0,41% na mínima do dia), mas, logo de manhã, a autoridade monetária anunciou leilão de swap cambial reverso (operação equivalente a uma venda de dólar no mercado futuro). Foram oferecidos 80 mil contratos ao mercado, com 30,5 mil sendo colocados, no valor de US$ 1,523 bilhão. Em seguida, o BC comprou dólar no mercado à vista, e a cotação passou a subir. Para o gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater dos Santos, ficou claro que o governo trabalha com um piso de R$ 1,70 para o dólar.

- O BC atuou com mais força - avalia José Carlos Amado, operador de câmbio da corretora Renascença, para quem os rumores sobre mais intervenções do governo no câmbio também deixaram os investidores receosos, mesmo quando não passam de boatos: - O rumor gera dúvidas e os investidores deixam de arriscar - explica.

A opção pela atuação mais forte no mercado futuro, segundo operadores, está relacionada justamente à tentativa de conter as expectativas por mais entradas de dólares. A semana passada foi a segunda seguida em que o fluxo de entradas e retiradas de moeda americana na economia ficou no vermelho. Amado, da Renascença, explica que, mesmo com as saídas, os bancos podem ter vendido no mercado dólares que estavam com eles.

Bolsa recua 0,22% com pessimismo internacional

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência, recuou 0,22% ontem, aos 65.811 pontos, seguindo o movimento externo. O discurso do presidente do Fed, que levou o dólar a valorizar-se em todo o mundo, trouxe pessimismo para os mercados americanos. Caíram os índices Dow Jones (0,41%), S&P 500 (0,47%) e Nasdaq (0,67%). Na Europa, recuaram os principais índices de Londres (0,95%), Paris (0,04%) e Frankfurt (0,46%).

Por aqui, Petrobras PN (preferencial, sem voto) caiu 0,08%, a R$ 24,31. Vale PNA recuou 0,93% (R$ 42,50). A maior queda do Ibovespa foi do papel ordinário (ON, com voto) da construtora Gafisa (7%, a R$ 4,78), após a empresa rejeitar proposta para venda de parte de seu controle para os fundos GP Investimentos e Equity International.