Título: PF prende Carlinhos Cachoeira
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/03/2012, O País, p. 14

Pivô do escândalo Waldomiro Diniz é acusado de explorar máquinas caça-níqueis

BRASÍLIA. A Polícia Federal prendeu ontem Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e mais 30 pessoas acusadas de corrupção, lavagem de dinheiro e exploração ilegal de máquinas caça-níqueis, entre outros crimes, em Goiás. Cachoeira foi o pivô do escândalo que resultou na demissão do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz em 2004, então um dos principais assessores do ex-ministro José Dirceu. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal desconfiam também que Cachoeira contava com a conivência de políticos para explorar caça-níqueis.

- Há uma possibilidade de contatos políticos. Se é crime ou não, quem vai dizer são outras instâncias - disse Daniel de Resende Salgado, um dos procuradores que estão à frente da chamada Operação Monte Carlo.

Entre os acusados de envolvimento com Cachoeira estão 38 policiais: dois delegados da Polícia Federal, seis delegados da Polícia Civil goiana, um agente da Polícia Rodoviária Federal e 29 soldados, cabos e oficiais da Polícia Militar de Goiás. Segundo os investigadores do caso, os policiais recebiam propinas de R$ 200 a R$ 4 mil por mês para garantir segurança e vazar informações sigilosas para a organização de Cachoeira. Com ele, a polícia apreendeu R$ 180 mil em espécie.

Ao longo do dia, os policiais federais apreenderam ainda 200 máquinas caça-níqueis e documentos dos investigados em Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro e Tocantins. Cachoeira foi preso em Goiânia, logo no início da manhã. Ele estava em casa com a mulher e, segundo policiais, não esboçou qualquer reação à ordem de prisão. Ele foi levado para a Superintendência da PF, em Brasília, e de lá seria transferido para um presídio federal de segurança máxima.

Cachoeira se recusou a prestar depoimento. Disse que só falaria sobre as acusações em juízo. A decisão de se manter em silêncio foi confirmada pelos cinco advogados escalados para a linha de frente da defesa. As operações da PF e do MPF de Goiás começaram há um ano e três meses. Cachoeira é acusado de subornar servidores públicos, policiais e autoridades para garantir a livre exploração de caca-níqueis próprios e destruir eventuais concorrentes.

Ele é suspeito também de pagar a policiais para receber com antecedência informações sobre fiscalizações contra as casas de jogos ilegais. Pela apuração dos procuradores Daniel Resende e Léa Batista de Oliveira, a organização estava em atividade há mais de uma década. A infiltração de aliados de Cachoeira na administração pública teria sido um dos maiores obstáculos ao andamento das investigações. As ordens de prisão, 35 ao todo, foram expedidas pelo juiz Paulo Augusto Moeira, da 11 Vara Federal de Goiânia.