Título: Mantega: crise de BB e Previ pode ser prejudicial
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 02/03/2012, Economia, p. 26

Ministro da Fazenda fala em "fofoca", mas temor é que briga acabe afetando planos de reduzir o custo do crédito

Martha Beck, Gabriela Valente e Geralda Doca

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a briga que envolve o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e o da Previ, Ricardo Flores, é uma crise de fofocas que pode acabar prejudicando as duas instituições. Bendine e Flores estão numa queda de braço que se tornou pública e respingou no ministério.

- Essa é uma crise de fofocas porque, de fato, as duas instituições estão funcionando muito bem. O Banco do Brasil está com desempenho excelente, aumentando o crédito, reduzindo juros, tendo uma rentabilidade elevada, portanto, cumprindo o seu papel. A Previ também está cumprindo o seu papel, com rendimentos excepcionais, participando de grandes projetos. Fica uma questão até difícil de identificar, porque ninguém assume a responsabilidade de fofocas que estão sendo colocadas.

Segundo fontes ligadas ao BB, a briga entre Bendine e Flores, que teria começado durante o processo de sucessão para o comando da Vale, é pessoal, mas se agravou, especialmente depois que começaram a correr no mercado rumores de que Mantega se afastaria da Fazenda para acompanhar sua mulher num tratamento de câncer. Isso fez com que os dois tentassem se posicionar para não perder poder, caso o ministro deixe o governo.

- É simplesmente uma disputa de poder - disse a fonte.

Quando Roger Agnelli deixou a presidência da Vale, Bendine tinha a ambição de sucedê-lo. No entanto, o presidente do BB acredita que seu nome foi vetado junto ao Planalto por Flores, uma vez que a Previ faz parte do bloco de controle da mineradora.

O afago de Mantega aos dois lados ontem faz parte da estratégia do Planalto de acalmar os ânimos. O temor é que as diferenças entre BB e Previ acabem afetando planos importantes para a economia, como o plano para reduzir o custo do crédito no país.

- Vamos lidar com isso. Essa situação tem que acabar porque, em algum momento, isso poderia prejudicar a atuação dessas instituições. Não prejudicou até agora e o que o governo quer é que isso acabe logo para não prejudicar o desempenho delas - disse o ministro.

No momento, meta é manter dirigentes em seus cargos

Mantega negou que a presidente Dilma Rousseff tenha ordenado a demissão de membros da cúpula do BB, como o vice-presidente de governo da instituição Ricardo Oliveira. Segundo interlocutores da presidente, Dilma mandou o ministro dar um recado aos envolvidos na briga: ou ela acaba ou pode haver demissões. Mas, no momento, a disposição de Dilma é acabar com a briga e manter os dirigentes nos cargos.

- A presidenta Dilma não me pediu para fazer nenhuma demissão - disse o ministro.

Numa tentativa de acalmar os ânimos, o BB já estuda antecipar a divulgação do plano de redução dos custos dos empréstimos que vinha sendo montado para incentivar a economia. Esse plano faz parte de uma agenda de longo prazo da presidente, mas sendo divulgado agora pode ajudar a mudar o foco do noticiário dos últimos dias. A divulgação, entretanto, vai depender do comportamento dos dois grupos que disputam poder.

O BB negou oficialmente ontem que tenha vazado o extrato do ex-vice presidente Allan Toledo. Ele foi demitido no fim do ano passado por divergências com Bendine e acaba de ter uma movimentação financeira divulgada na imprensa em matérias ligadas à briga entre BB e Previ. O banco informou que está em andamento uma auditoria interna e que, até o momento, não foi identificado qualquer fato que evidencie acesso indevido a informações ou quebra de sigilo bancário. Ricardo Oliveira é um dos suspeitos de ter vazado o extrato.

Já o advogado do ex-vice presidente do BB Allan Toledo criticou a nota divulgada pelo banco, na qual a instituição diz que não teve culpa no vazamento dos dados do executivo. Segundo José Roberto Batochio, houve crime de violação de sigilo funcional.

- Divulgaram os extratos, a venda de um imóvel da mãe adotiva dele. Ele é o procurador dela, para gerir os bens dela. Se o BB não vazou, quem foi então? Os extratos caíram pela janela na mesa de uma jornalista? - disse Batochio, confirmando que pretende processar a instituição.