Título: Dilma critica tsunami monetário de ricos
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 02/03/2012, Economia, p. 25

Presidente afirma que guerra cambial promovida por países desenvolvidos cria condições desiguais de competição

DINHEIRO FARTO

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff elevou ontem o tom das críticas aos países desenvolvidos, chamando de "tsunami monetário" a estratégia que estes têm adotado para sair da crise, injetando dinheiro na economia. Segundo a presidente, esses países estão canibalizando os emergentes e gerando condições desiguais de competição no mercado internacional. Dilma classificou a política monetária dos desenvolvidos de inconsequente, citando Europa e Japão.

- Nós nos preocupamos com esse tsunami monetário dos países desenvolvidos, que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar (o crescimento) e sair da crise em que estão metidos, mas despejam US$ 4,7 trilhões no mundo (...) de forma muito adversa, muito perversa para o resto dos países, principalmente os emergentes. (Eles) compensam essa rigidez fiscal com uma política monetária absolutamente inconsequente do ponto de vista do que ela produz sobre os mercados internacionais - afirmou a presidente.

As duras declarações de Dilma foram feitas na cerimônia de celebração do Compromisso Nacional para o Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho na Indústria da Construção, firmado ontem entre governo, empresários e trabalhadores do setor no Palácio do Planalto. Em seu discurso, para uma plateia repleta de empresários e sindicalistas, a presidente disse que o governo terá de criar novos "instrumentos de combate" para proteger a indústria nacional daquilo que chamou de guerra cambial:

- As condições de concorrência são adversas, não porque a indústria brasileira não seja produtiva, não porque o trabalhador brasileiro não seja produtivo, mas porque tem uma guerra cambial baseada numa política monetária expansionista que cria condições desiguais de competição.

A presidente ponderou que o país só não foi tão afetado pela crise porque o setor da construção, que conta com forte investimento no Brasil, aquece a economia interna:

- No caso da construção civil, nós temos um diferencial. Por quê? Porque o produto da construção civil não é um produto comercializável internacionalmente. Ele está baseado no nosso mercado interno. Nós vamos continuar desenvolvendo este país, defendendo a sua indústria, impedindo que os métodos de saída da crise dos países desenvolvidos impliquem a canibalização dos mercados dos países emergentes.