Título: Medidas podem ter algum impacto de curto prazo
Autor:
Fonte: O Globo, 02/03/2012, Economia, p. 23

Corpo a corpo

OCTAVIO DE BARROS

SÃO PAULO. Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, a ampliação do prazo de cobrança do IOF pode ter impacto a curto prazo. Mas ele ressalta que, devido ao cenário global, o real deve continuar se valorizando. E lembra que o governo ainda tem outras armas, como uma redução mais forte dos juros, caso o dólar fique abaixo de R$ 1,60.

O GLOBO: As medidas anunciadas pelo governo aparentemente não surtiram o efeito desejado. O que deu errado?

OCTAVIO DE BARROS: Essas medidas podem ter algum impacto de curto prazo, interrompendo temporariamente ou amortecendo a apreciação cambial. O mais importante, a meu ver, é a sinalização do governo, preocupado com os impactos do câmbio sobre a atividade econômica. A própria presidente associou o que chamou de "tsunami monetário dos países desenvolvidos" à competitividade da indústria nacional. Contudo, a tendência do real continua de apreciação, diante do cenário global.

A apreciação do real é um efeito da injeção de crédito levada a cabo na Europa?

BARROS: A apreciação do real tem um componente estrutural relevante, dado pela melhora dos fundamentos domésticos. Mais recentemente, concordo que as ações dos bancos centrais de EUA e Europa têm exercido um papel relevante no mercado cambial. A forte liquidez internacional, a sinalização explícita de que os juros nos países desenvolvidos se manterão em patamares baixos por tempo prolongado e a baixa aversão ao risco têm tido papel de destaque diante do diferencial de juros a favor do Brasil. Contudo, também há diferenciais de crescimento e situação fiscal que favorecem a apreciação do real.

Como isso afetará a cotação do real? O governo tem remédios contra essa maior liquidez?

BARROS: Há várias alternativas, além da intervenção clássica no mercado cambial. O sinal do governo é que há armas disponíveis para isso. Como consequência, podemos ver algum aumento da volatilidade a curto prazo e redução do ritmo de apreciação. Não creio que reduzir os juros em ritmo mais forte agora esteja no radar, mas não descarto essa possibilidade se o real caminhar para R$ 1,60 por dólar. (Paulo Justus)