Título: Captações em 2 meses já são a metade dos US$ 38 bi de 2011
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 04/03/2012, Economia, p. 39

Empresas só protegem 60% da dívida em dólares

SÃO PAULO. O crescente endividamento em moeda estrangeira de companhias brasileiras, nos dois primeiros meses de 2012, eleva o risco de novas perdas financeiras provocadas por uma brusca variação da taxa de câmbio, dizem especialistas. Entre janeiro e fevereiro, houve uma disparada na procura por dinheiro mais barato no exterior. Segundo levantamento oficial feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o total de empréstimos em dólares feitos por empresas nacionais, através da emissões de papéis no exterior, chegou a US$ 16,8 bilhões. Uma estimativa da corretora BGC Liquidez mostra que as captações teriam sido ainda maiores, chegando a US$ 18,5 bilhões. É quase metade do valor captado em todo o ano passado, quando as companhias brasileiras fizeram dívidas de US$ 38,5 bilhões, de acordo com dados da Anbima.

-- As empresas buscam empréstimos no exterior porque pagam juros menores, entre 4% e 6% ao ano, do que a taxa pedida por bancos no mercado interno. Embora façam operações de hedge no mercado para se proteger de variações bruscas no câmbio, o risco de perdas sempre existe - diz Bruno Laviere, analista de câmbio da Tendências.

O chamado hedge é uma espécie de escudo contra a volatilidade das moedas. Uma empresa que fez empréstimos em moeda americana, por exemplo, pode se proteger no mercado futuro de dólar. Ela compra contratos futuros de dólar, em valor equivalente à sua dívida, negociados na BM&F. Assim, reduz o risco de uma perda provocada por uma elevação da cotação da moeda americana.

- O problema é que as empresas têm custos para fazer o hedge. Em média, elas protegem apenas 60% da dívida. Os 40% restantes ficam expostos à variação do câmbio e podem ocorrer perdas - diz o economista-chefe da Corretora Souza Barros, Clodoir Vieira.

De acordo com Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima, até dezembro, o total de empréstimos de empresas brasileiras no exterior vai crescer e superar os U$ 38,5 bilhões do ano passado:

- É difícil dizer um número, mas certamente as captações vão superar as do ano passado.

Só para se ter uma ideia do apetite dos investidores, a Brasil Telecom emitiu US$ 1,5 bilhão de bônus no exterior em fevereiro. O interesse foi tanto que a demanda pelos papeis da companhia chegou a US$ 8,6 bilhões.

- Em apenas duas horas de operação, já tínhamos US$ 2 bilhões de demanda - diz Alex Zornig, diretor de Finanças e Relações com Investidores da Brasil Telecom.

A oferta de empréstimos para empresas brasileiras está tão aquecida que até companhias que não têm o chamado grau de investimento, uma garantia de "bom pagador" dada pelas agências de classificação de risco, estão conseguindo tomar dinheiro no exterior. A Cimento Tupi, por exemplo, que não é grau de investimento, captou US$ 50 milhões em fevereiro.

- A redução do risco Brasil eleva a demanda por papeis brasileiros. Para as empresas, a vantagem é a diferença de taxa de juros entre o Brasil e os países desenvolvidos - afirma Demétrio Simões, diretor financeiro da Cimento Tupi. (João Sorima Neto)