Título: Rotina impede retorno de militar com HIV
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 04/03/2012, O País, p. 9

Para Defesa, exercícios poderiam prejudicar saúde de soropositivos

Jacqueline Brasil passou sete anos na Marinha. Foi cabo no Quartel do Marinheiro, no Rio de Janeiro. Liderou uma campanha de doação de sangue entre os militares de sua guarnição, em 1991. Tinha 21 anos à época. Hoje, tem 47. Nessa campanha, o resultado de seu exame de sangue deu positivo para o HIV. Dois anos depois, conta que foi surpreendido com um aviso na porta do quartel, com sua foto, informando que ele só poderia ingressar na unidade com um acompanhante.

- Uma demonstração de intolerância e preconceito - afirma Jacqueline, filiado ao PT e que tem como nome de batismo Jackson Silva.

O número de militares portadores de HIV é, até agora, uma incógnita. A entidade diz ter contato com 35 ex-militares com HIV. Mas estima-se que o total seja muito superior. O Ministério da Defesa não informou o número de militares portadores de HIV. A pasta alegou não ser um dado de "domínio público" e que é garantido o sigilo absoluto do resultado do exame.

Saúde é contra o desligamento das funções

O diretor-adjunto do Programa Nacional de DST e Aids do governo, Eduardo Barbosa, afirmou que o Ministério da Saúde é contra ao desligamento do militar portador de HIV.

- O Ministério da Saúde entende que os soropositivos não precisam necessariamente deixar as atividades físicas ou laborais. O que não pode haver é choque, onde a pessoa entra em contato com o sangue. Mas, numa atividade regular, como patrulhamento, monitoramento ou defesa, não há problema - afirma Eduardo Barbosa.

O Ministério da Defesa informou que a rotina militar é diferenciada, que envolve exercícios físicos e treinos coletivos. E,que essas atividades podem debilitar o sistema imunológico dos portadores do HIV.

"Por esse motivo, é recomendável que pessoas interessadas em ingressar nas Forças Armadas não estejam com a imunidade comprometida", informou o ministério por meio de notas.

Ainda de acordo com as Forças Armadas, todo militar é um doador de sangue potencial e, por essa razão, é exigido o teste de HIV como pré-admissional. E mais, segundo a nota: os portadores deste vírus não são admitidos nas três forças. "São medidas que almejam proteger tanto a saúde dessas pessoas,como a de terceiros, além de assegurar a higidez e o vigor dos treinamentos militares e do pleno emprego das tropas (...). Não há óbices legais à exigência do teste de HIV para o ingresso nas Forças Armadas".