Título: Juros podem cair se política fiscal contribuir
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Fonte: O Globo, 04/03/2012, Opinião, p. 6

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada a cada mês e meio, é sempre um momento de reflexão sobre a conjuntura econômica. Nos dias que antecedem o encontro, várias instituições fazem uma espécie de retrato da situação da economia do país e projetam tendências, na tentativa de prever os passos a serem dados pelas autoridades em relação à moeda e ao crédito. Desde que o Brasil adotou o regime de metas de inflação, o Banco Central busca um alvo, um ponto central, e para tal baliza as taxas básicas de juros (Selic). Se a inflação perde fôlego em decorrência de um enfraquecimento da atividade econômica, as autoridades precisam ajustar os juros, de modo a influenciar o consumo, o investimento e a oferta de bens e serviços.

A situação internacional exige hoje grande atenção das autoridades, seja por seus reflexos no comércio exterior, seja pela rápida e vultosa movimentação planetária de capitais. Nos últimos meses, por exemplo, observa-se que o fluxo de capital tem se intensificado na direção do Brasil, causando uma valorização do real que o governo considera indesejável, porque leva uma parte da indústria a perder competitividade diante da concorrência de bens importados. Já se foi o tempo em que era preciso produzir internamente a qualquer custo, pois sequer havia a opção da importação. Hoje a questão é outra, e o que se discute está mais ligado à importância, ou não, de se manter a integridade das várias etapas das cadeias produtivas internas.

E o que tem o Copom a ver com isso, que parece ser mais uma discussão estrutural, voltada para a política industrial ou de comércio exterior? O Brasil, felizmente, não possui mais uma economia muito fechada, e, assim, as diferenças de taxas de juros acabam sendo um componente que mexe com o fluxo de capitais financeiros. Os juros podem impactar o câmbio, interferindo de alguma maneira sobre as condições de oferta e procura, e os preços domésticos.

Como a inflação deve dar uma trégua neste primeiro semestre, a maioria dos especialistas prevê que o Copom cortará as taxas básicas de juros na reunião desta semana e nas próximas, com o propósito, inclusive, de desestimular o ingresso de capitais atraídos pela possibilidade de elevados ganhos financeiros no Brasil. Se há um ingresso excessivo, o Banco Central se obriga a adquirir sobras de divisas no mercado, o que é feito tendo em contrapartida o lançamento de títulos públicos. Embora não seja missão do Copom definir uma ação sobre o câmbio, indiretamente a moeda e o crédito são afetados quando o BC compra ou vende divisas, podendo comprometer os objetivos da política monetária, principalmente a tentativa de conter a inflação dentro das metas estabelecidas pelo governo.

O esperado, então, é que as taxas básicas de juros recuem nesta quarta-feira. Elas permanecerão ainda altas, se comparadas a patamares internacionais. No entanto, a inflação também tem oscilado acima da média. Para o Brasil conseguir controlá-la reduzindo simultaneamente as taxas de juros, o governo terá de acionar outros mecanismos, como a política fiscal. Em janeiro, as contas públicas fecharam no azul. É um bom caminho, e que se deve ser perseguido ao longo de 2012.