Título: Marco Maia ironiza manifesto do PMDB
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 06/03/2012, O País, p. 3

"Isso é TPE, tensão pré-eleitoral, é normal", diz presidente da Câmara sobre revolta de partido aliado

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), ironizou ontem a rebelião do PMDB contra o espaço do PT no governo. Classificou como "TPE" ("tensão pré-eleitoral") as queixas de peemedebistas sobre a falta de espaço e protagonismo do partido na gestão da presidente Dilma Rousseff e as críticas à hegemonia petista. O manifesto, que será entregue hoje ao vice-presidente e presidente interino da República, Michel Temer, tem a assinatura de, pelo menos, 45 deputados da bancada de 77 parlamentares do PMDB na Câmara.

Além de reclamar do tratamento desigual dispensado pelo governo Dilma ao PMDB, se comparado ao recebido pelo PT, os peemedebistas também reafirmam o temor de que a máquina governamental seja usada em benefício dos candidatos petistas na eleição municipal, o que poderia tirar o status do PMDB de partido com maior número de prefeituras do país.

Manifesto acusa PT de usar "estrutura governamental"

Maia disse que é direito do PMDB externar suas insatisfações em relação ao tratamento recebido, mas acrescentou que é questionável a decisão de focar suas críticas no PT:

- Isso é TPE, tensão pré-eleitoral, é normal. PT e PMDB não estarão coligados em todos os municípios. No meu estado, por exemplo, o nível de disputa entre os dois é forte e dificulta as alianças. O ano de eleição é um momento em que os partidos tentam marcar opiniões - disse Maia, acrescentando: - O PMDB tem todo o direito de se queixar e refletir sobre sua participação no governo. Podemos talvez questionar o tom das queixas e ter direcionado as queixas ao PT. Não é verdade que o PT ocupa todos os cargos, e, recentemente, perdemos vários deles.

"Nós estamos vivendo numa encruzilhada, onde o PT se prepara com ampla estrutura governamental para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como o maior partido com base municipal no país", diz um dos trechos do documento. Outros deputados já manifestaram interesse de assinar o manifesto, que deverá contar com mais de 50 assinaturas. Um dos líderes do movimento, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) não gostou das declarações de Maia:

- Ele tenta suavizar um problema que extrapolou as barreiras do PMDB. Outros partidos da base aliada já exalam suas insatisfações. A própria presidente Dilma já disse, no aniversário do PT, que o governo é do PT. É cômodo ironizar com aqueles que querem colaborar.

Ontem, Forte discursou na tribuna e disse que o manifesto não é uma declaração de guerra, mas um alerta aos líderes do PMDB dos riscos da hegemonia do PT. Forte afirma que a insatisfação já foi externada a Temer no ano passado, e que, desde então, o distanciamento com o governo do PT só aumentou. Disse que a votação do Código Florestal não pode ser vista como uma retaliação. Integrantes do PMDB querem resgatar o texto votado na Câmara, mas o governo quer manter o que foi aprovado no Senado.

- A nossa postura em relação ao código é anterior a este manifesto. O PMDB não pode mudar de postura de seis em seis meses, assumimos um compromisso quando votamos aqui na Câmara.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), evitou atiçar ainda mais os ânimos. Segundo ele, o manifesto é dirigido à direção do PMDB e não tem relação com as votações na Casa:

- Não acho que exista partido que se possa colocar acima de críticas. O PT pode criticar o PMDB, e o PMDB pode criticar o PT, mas, na Câmara, a base aliada marchará unida.

Pressionado pela bancada, o líder Henrique Eduardo Alves (RN) disse que as reclamações são antigas, mas não vão influenciar as votações:

- Nas questões centrais, o partido tem cumprido o seu dever.

COLABOROU: Cristiane Jungblut