Título: Instituto Herzog repudia declarações de general
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 06/03/2012, O País, p. 10

Rocha Paiva questionou assassinato de jornalista

O Instituto Vladimir Herzog divulgou ontem uma nota de repúdio às declarações do general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva que, em entrevista a Míriam Leitão, do GLOBO, publicada na semana passada, duvidou que o jornalista Vladimir Herzog tenha sido assassinado por agentes da ditadura. A nota relembra que a Justiça, há 33 anos, reconheceu oficialmente, em processo movido pela viúva, Clarice Herzog, e seus filhos, que o jornalista foi preso, torturado e morto pela repressão. Ao falar na entrevista sobre a morte de Herzog, Rocha Paiva disse que ninguém poderia afirmar quem, de fato, o matou.

"Além de tudo isso, posteriormente, em julgamento proferido no âmbito da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei nº 9.140/96, o próprio Estado brasileiro ratificou o reconhecimento dessa prisão ilegal, tortura e morte", ressalta a nota do Instituto. Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura em São Paulo, foi encontrado morto nas dependências do 2 Exército, no dia 25 de outubro de 1975. No dia anterior, ele havia se apresentado na sede do DOI-Codi para prestar depoimento sobre sua ligação com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte à morte, o DOI-Codi divulgou uma nota afirmando que Herzog havia se enforcado na cela. Três anos depois, a família abriu um processo para investigar o suposto suicídio, e a União foi responsabilizada pela morte.

O instituto ainda contesta a pergunta do general, que, em determinado trecho da entrevista, indaga à jornalista: "Quando é que não houve tortura no Brasil?":

"General, tortura nunca foi usos e costumes, nem no Brasil nem em lugar algum. Sempre foi e é a violação do império da lei, que condena quem tortura. Tanto que a nossa Constituição Federal é taxativa ao determinar que "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante" (art.5, inciso III)."

Na entrevista, Rocha Paiva também colocou sob suspeita a tortura sofrida pela presidente Dilma Rousseff e, como exemplo de que a Comissão da Verdade deve ouvir os dois lados para não ser "parcial e maniqueísta", defendeu que a presidente também seja chamada a depor.