Título: Mercado interno sustenta PIB
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 06/03/2012, Economia, p. 21

Analistas projetam crescimento de até 3% para o país em 2011

Fabiana Ribeiro, João Sorima Neto e Marcio Beck

RIO e SÃO PAULO. A despeito de uma inflação elevada, o consumo das famílias, mais uma vez, segurou o desempenho da economia brasileira. Assim preveem analistas ouvidos pelo GLOBO, que projetam um crescimento em 2011 entre 2,6% e 3% para o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), que será divulgado hoje pelo IBGE. Após essa forte desaceleração (em 2010, o país cresceu 7,5%), contudo, os especialistas vislumbram um cenário um pouco mais favorável para 2012, com previsões de alta de até 4,5%.

- Mesmo sustentando o PIB, o consumo das famílias deve ter desacelerado no quarto trimestre de 2011, reflexo ainda dos juros altos. Mas a expectativa é de que, com uma inflação média menor, essa demanda volte a acelerar - comentou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, acrescentando que o câmbio baixo também estimula o consumo.

A economista Alessandra Ribeiro, da Consultoria Tendências, avalia que as medidas tomadas pelo governo, como estímulo ao crédito e isenção tributária para bens duráveis da linha branca, fizeram o consumo das famílias crescer 1% na margem no quarto trimestre. Já o setor de serviços deve ter crescido 1,2%, resultado de um mercado de trabalho com menos demissões:

- Foi o desempenho da indústria que decepcionou. No ano, estimamos um crescimento para o PIB industrial menor que os 10,4% registrados no ano passado. Nossa indústria sofre concorrência de importação de bens de capital e duráveis. É um cenário que prevalece em 2012 - disse ela.

Para este ano, o quadro começa parecido com o último trimestre de 2011: a indústria apresenta desempenho, com vendas mais fracas do setor automobilístico em fevereiro. Já no varejo, as vendas devem ganhar destaque, puxadas pelo aumento de 14% do salário mínimo. Para o primeiro trimestre do ano, o Citibank estima crescimento de 0,9% em relação ao trimestre anterior.

- Prevemos um crescimento de menos de 3,5% para 2012. Começamos o ano "carregando" a desaceleração no fim de 2011. Por isso, será necessário mais esforço da economia para crescer acima dos 3%. O anúncio de que a China diminuiu sua meta de crescimento não deve ter impacto significativo no Brasil. A Europa preocupa mais. Embora a hipótese de uma crise bancária esteja afastada, ainda existe o fator Grécia e pode haver um calote no processo de troca de dívida - disse Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citibank no Brasil.

Revisão de crescimento da China não deve afetar PIB de 2012

Mônica de Bolle, economista da Galanto, não acredita num "efeito China" sobre a economia brasileira, com a divulgação da redução de metas do país asiático - de 8,0% para 7,5%.

- Tradicionalmente, as autoridades divulgam uma expectativa que, na prática, não é uma meta, mas um piso de crescimento. Não vejo impactos para o PIB brasileiro.

Já o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, prevê um crescimento de 0,3% do PIB no último trimestre de 2011, em comparação com a estagnação verificada no terceiro trimestre. Para ele, a indústria teve uma contração de 1,1% nos três últimos meses do ano, impactada pela indústria de transformação, resultado do ajuste de estoques iniciado em meados de 2011. Ele lembra ainda que a contribuição do setor externo deve vir negativa no quarto trimestre, com demanda global enfraquecida. Para 2011, o economista do Bradesco aposta numa expansão de 3%. E para 2012, 3,7%.