Título: Mantega: arsenal infinito no câmbio
Autor: Neder, Vinícius
Fonte: O Globo, 07/03/2012, Economia, p. 27

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu ontem que o governo vai manter o real desvalorizado para proteger a indústria nacional da chamada guerra cambial - na qual os países ricos enfraquecem suas moedas com o objetivo de ganhar mais competitividade no mercado internacional. Embora as ações recentes do governo não tenham impedido a queda do dólar, Mantega enfatizou que seu arsenal é infinito e sinalizou que vai continuar atuando, tanto no mercado de câmbio à vista quanto no mercado futuro.

- Vamos viver um agravamento da guerra cambial em 2012, mas o Brasil é um país prevenido. Temos um arsenal infinito. Já adotei medidas e posso criar outras - afirmou Mantega.

O ministro mostrou-se enfático:

- Temos atuado nos mercados spot (à vista) e futuro, e podemos aumentar nossa atuação em larga escala. Não há risco de o real se valorizar e causar danos à indústria. Vamos manter a moeda desvalorizada.

A equipe econômica vem trabalhando em ações para aumentar o controle sobre o chamado capital estrangeiro especulativo, aquele que ingressa no país em busca de lucro fácil. Os técnicos já trabalham, por exemplo, com a possibilidade de usar o Fundo Soberano para comprar dólares no mercado, atuando em conjunto com o Banco Central (BC) nessa ação. Além disso, o governo vai continuar com sua política de defesa comercial, para evitar a entrada de produtos importados muito baratos no mercado doméstico.

Mantega disse que não vê risco de um cataclismo no cenário externo este ano, embora o Brasil possa sofrer as consequências da desaceleração da economia internacional, especialmente na China - que no último domingo reduziu sua meta de crescimento este ano de 8% para 7,5%. Mesmo assim, o ministro assegurou que o Brasil está preparado para esse cenário, pois possui um mercado interno forte.

A Receita Federal fez ontem alguns esclarecimentos com relação ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre as compras com cartões de crédito no exterior (6,38%) e sobre os empréstimos de empresas brasileiras no exterior com prazo inferior a três anos (6%). No primeiro caso, o Fisco informou que o tributo deve ser cobrado mesmo quando o comprador optar pelo pagamento em real.

Já no segundo, esclareceu que o tributo mais elevado vale para empréstimos com prazo inferior a 1.080 dias, o equivalente a três anos. Isso porque havia a dúvida dos operadores de mercado sobre a forma de contagem desse prazo.