Título: Dilma fica longe da média de Lula
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 07/03/2012, Economia, p. 26

País tem de crescer 5,1% ao ano para igualar os 4,5% do último mandato petista

O crescimento de 2,7% no ano passado pode custar à presidente Dilma Rousseff uma média de crescimento em seu mandato inferior ao registrado nos últimos quatro anos de Lula (2007-2010, quando o país teve expansão média de 4,5% ao ano). Para superar seu sucessor, o país precisa crescer, em média, 5,1%, de acordo com as contas do professor Reinaldo Gonçalves (UFRJ):

- Esse é um patamar muito difícil de ser obtido. As projeções já indicam um crescimento do PIB em 3% neste ano e 4% em 2013. Acredito que será mais fácil para ela obter um avanço de 3,5% em média em seu primeiro mandato, parecido com o que obteve Lula nos primeiros quatro anos na presidência. Mesmo assim, será um resultado fraco, abaixo da média histórica de crescimento do país na era republicana, de 4,5% - disse.

O professor lembra, ainda, que o resultado de 2011 é fraco sob outras perspectivas:

- O crescimento da economia foi medíocre, abaixo da média mundial (3,8%,), da média dos países emergentes (6,2%), do comércio internacional e da América Latina (4,6%). E isso deve continuar nos próximos anos - afirmou o professor que, contudo, lembrou que o governo pode tentar turbinar o crescimento para os últimos anos de mandato da petista: - É aquela lógica de vereador de cidade do interior, que começa o governo fraco para tentar mostrar resultados mais perto das eleições.

Os números da pesquisa do professor apontam que o primeiro ano de Dilma foi pior que o registrado no primeiro ano do primeiro mandato de FHC (1995, alta de 4,42%) e que o primeiro ano do segundo mandato de Lula (2007, alta de 6,09%). Mas os 2,73% obtidos no primeiro ano de Dilma foram melhores que o primeiro ano do segundo mandato de FHC (1999, alta de 0,25%) e o primeiro ano do primeiro mandato de Lula (2003, alta de 1,15%).

Resultado foi afetado por

alta excessiva em 2010

O professor Paulo Vicente, da Fundação Dom Cabral, acredita que o resultado fraco do primeiro ano da petista foi causado, em grande parte, pelo crescimento de 7,5% em 2010, que, segundo ele, foi acima dos padrões brasileiros, anabolizados por questões eleitorais:

- O objetivo era muito claro, fazer com que 2010 fosse um ano de fartura para que a eleição de Dilma fosse favorecida. Mas, logo no início do mandato, ela teve que subir juros para conter o crescimento excessivo e tentar controlar a inflação, que estava disparando. Ou seja, os excessos de 2010 acabaram por impactar no baixo crescimento do ano passado - afirma o professor.

Para ele, os governantes, em geral, não pensam em crescimento sustentável, pois dão prioridade à política ao criar estratégias de avanço para o país:

- A política econômica é muito reativa a processos eleitorais. Isso pode ter resultados a curto prazo, mas minam o crescimento de médio e longo prazos.