Título: Defesa: nova base na Antártica só em 6 anos
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 07/03/2012, O País, p. 13

Obra deverá custar R$ 100 milhões, e cumprimento de prazo vai depender de fluxo regular de dinheiro do Orçamento

BRASÍLIA. O Ministério da Defesa prevê que a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), que teve 70% de suas instalações destruídas por um incêndio em 25 de fevereiro, só volte a entrar em operação no verão de 2018. A obra deve custar cerca de R$ 100 milhões, segundo estimativa preliminar da Marinha.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse, entretanto, que o cumprimento do prazo depende do fluxo regular de dinheiro do Orçamento para o Programa Antártico (Proantar). Hoje, a Marinha estuda um modelo de base semelhante à construída pela Espanha, cuja arquitetura, segundo os militares, é mais segura e atende aos objetivos científicos do Brasil no continente gelado.

Ontem, em audiência pública no Senado, a Marinha e os pesquisadores que coordenam o Proantar classificaram o incêndio como uma "fatalidade". No incêndio, morreram dois militares que atuavam no combate às chamas. A perícia deve ser concluída nos próximos dias e, a partir desta semana, contará com o reforço de especialistas da Polícia Federal. Uma portaria interministerial deve permitir que militares e cientistas definam, em conjunto, o plano de recuperação da base e de manutenção das pesquisas antárticas.

Segundo o cronograma traçado pelo ministro da Defesa, o orçamento do Proantar deve ganhar um reforço de R$ 41 milhões este ano, para limpeza de destroços, manutenção das pesquisas e planejamento básico da nova estação. O projeto detalhado deve ficar pronto no verão de 2013-2014, para que a obra seja entregue, "se tudo ocorrer muito bem", em três ou quatro anos.

- Se tudo ocorrer muito bem, a construção da nova base só poderá começar no verão 2013-2014 e levará de três a quatro anos. Isso, claro, caso os recursos venham de maneira contínua. Quanto ao custo, as informações são um pouco indicativas. Estima-se, com base no custo das últimas bases (de outros países), R$ 100 milhões. Isso é (um investimento) que vai ocorrer ao longo de vários anos - explicou Amorim aos senadores.

A base espanhola, que já aparece desenhada nos estudos levados a cabo pela Marinha, custou cerca de 30 milhões de euros. A estação estrangeira tem estruturas independentes, em formato de estrela, que se encontram numa espécie de módulo central, segundo o desenho apresentado durante a audiência pública. A falta de planejamento arquitetônico da estação brasileira, com módulos contíguos, tornava a base mais vulnerável à propagação do incêndio. Não sobrou nada do prédio principal.

Os pesquisadores com assento no Proantar querem que o governo alugue um navio, além das duas embarcações brasileiras de apoio e pesquisa, para acelerar o programa. Mas a ideia é rechaçada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, em razão do alto custo da operação. Ainda assim, o diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Soares, comemorou a participação de cientistas no planejamento da nova estação. E reforçou que a maior parte dos projetos na Antártica, cerca de 60%, sobrevivera ao incêndio.

- A participação dos cientistas foi uma grata surpresa. O que definirá a futura estação serão as metas científicas. A audiência foi importante para mostrar que o programa não está parado e que 60% das pesquisas de campo e 100% dos projetos estão funcionando - afirmou o pesquisador.