Título: Governo errou a mão
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 07/03/2012, Economia, p. 24

corpo corpo

ANTONIO LICHA

O professor do Instituto de Economia da UFRJ Antonio Licha atribui a menor expansão da economia em 2011 às políticas adotadas pelo governo, embora se acreditasse que era a decisão acertada na época. Segundo ele, 2012 será de expansão, mas o baixo crescimento de 2011 vai impedir que a taxa chegue perto de 4%.

O que provocou a desaceleração tão forte no crescimento do PIB?

ANTONIO LICHA: O governo errou a mão. Mas quando começou a subir os juros em 2011 todos acreditavam que era a política correta. As políticas macroprudenciais (para conter o crédito) tiveram efeito mais forte que o esperado e a política fiscal também se tornou mais contracionista. O que desacelerou a economia foram as políticas monetária e fiscal. A partir de julho, tivemos também influência da crise internacional, principalmente na Europa.

O que mais decepcionou em 2011?

LICHA: A maior frustração foi a indústria, pelo lado da oferta, e o investimento, pelo lado da demanda. Houve forte desaceleração do investimento, tanto privado quanto público. Os empresários ficaram mais cautelosos e o governo parou grande parte das obras para alcançar o superávit primário.

O aumento de impostos maior que o PIB teve a ver apenas com importações ou IPI?

LICHA: Independentemente do aumento do IPI e dos importados, o sistema tributário brasileiro favorece o aumento de impostos. Quando o PIB aumenta 1%, os impostos aumentam mais do que isso. A estrutura das alíquotas, por exemplo, acaba estimulando isso. Isso terá que ser resolvido em algum momento.

A economia pode crescer 4% em 2012?

LICHA: O Brasil pode voltar a crescer em um ritmo de 4% este ano, por causa da redução dos juros e da política fiscal mais expansionista. Mas o que levamos de crescimento de 2011 (o chamado carregamento) é muito pouco e dificilmente cresceremos em 2012 muito mais que no ano passado. Deve ser algo pouco acima de 3%. Já em 2013 já vislumbramos uma expansão mais forte.