Título: Indústria já recua há nove meses
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 07/03/2012, Economia, p. 25

Investimento cresceu 4,7%, expansão bem inferior aos 21,3% de 2010

Henrique Gomes Batista, Lino Rodrigues, Fabiana Ribeiro e Lucianne Carneiro

RIO e SÃO PAULO. A indústria teve um desempenho pífio em 2011: cresceu 1,6%, pior resultado desde a recessão de 2009 e depois de três trimestres seguidos de queda. E dentro da indústria, a de Transformação - que responde por 14,6% da economia nacional - ficou estagnada em 0,1% no ano passado. Com problemas de competitividade e crescimento das importações, o setor faz projeções sombrias para 2012.

- Se não fosse o fraco resultado da indústria da transformação, o PIB de 2011 poderia ter ficado na casa dos 4%, caso crescesse como os outros setores e em linha com o avanço da demanda - afirmou o economista Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Almeida atribui essa situação ao aumento das importações, juros altos, dólar em baixa, crise global e elevados estoques no setor no início do ano passado. Ele lembra que a indústria da transformação tem outro peso relevante, ao incentivar outros segmentos, como parte dos serviços, e os investimentos:

- O país pode prescindir da indústria, mas em troca terá crescimentos pífios.

Com a indústria fraca, a taxa de investimento (parcela do PIB destinada a aumentar a capacidade produtiva do país) não reagiu. Ficou em 19,3%, abaixo dos 19,5% de 2010 - número que, para especialistas, não permite um crescimento sustentado de 5% ao ano.

- Para se ter um crescimento de 5% ao ano, essa taxa deveria subir para 22% ou 23% do PIB. Estamos muito distantes disso - disse Eduardo Velho, economista da Prosper.

O investimento cresceu 4,7% no ano, bem abaixo dos 21,3% de 2010:

- O investimento teve uma forte desaceleração. E o governo tem feito mundos e fundos para ampliar a taxa, mas nos últimos quatro anos está abaixo de 20%. Isso prejudica o crescimento sem problemas com inflação - afirmou o economista da MB Associados Sergio Vale.

Com esses números, a indústria vê com preocupação o seu desempenho em 2012. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os resultados ruins do fim do ano fazem com que 2012 comece com um carregamento negativo de 3,3%, diante da queda de 2,5% na indústria de transformação no último trimestre do ano. Esse ritmo menor de produção passa para o ano seguinte.

O fraco desempenho do setor também levou a Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a acreditar que a expansão da economia neste ano não deverá ultrapassar os 3%. No caso da indústria de transformação, a entidade diz que a "continuidade do baixo dinamismo deverá levar a um crescimento zero este ano".

A indústria calçadista é um retrato do marasmo que marcou a economia em 2011. A Piccadilly, uma das maiores do setor, com sede no Rio Grande do Sul, sentiu uma forte desaceleração entre setembro e outubro do ano passado, período mais forte das encomendas para as vendas de Natal pelo comércio varejista. Segundo Paulo Grings, presidente da companhia, houve uma retração nas compras pelos lojistas para abastecer o mercado interno e uma redução de mais de 2% nas exportações sobre 2010.

- Em setembro e outubro (de 2011) não tivemos o mesmo desempenho do ano anterior. Antes exportávamos para mais de cem países. Hoje, vendemos para 86 países. Estamos pesquisando para produzir em outro país que tenha acordo comercial com países da Europa e Estados Unidos para reduzir nossos custos.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, as projeções para 2012 vão depender da redução das taxas de juros e de medidas estruturais, que representem melhoras na competitividade da indústria nacional. Segundo ele, a alta de 2,7% do PIB em 2011 foi frustrante e mostrou que o país precisa reduzir as "amarras para produzir e investir mais". Em um cenário ideal, ele acredita que o crescimento do setor pode chegar a 4%.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, comemorou, em nota, o resultado do PIB e do investimento. "A expansão de 4,7% no ano passado confirma o vigor do nível dos investimentos na economia e reflete expectativas positivas para 2012. "