Título: AIEA: Irã nos quer de mãos atadas
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Fonte: O Globo, 09/03/2012, O Mundo, p. 35
Diretor da agência revela não ter sido contatado sobre visita à base de Parchin
VIENA e TEERÃ. Num raro arroubo de impaciência e insatisfação, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukia Amano, acusou ontem o governo iraniano de "querer atar as mãos" da entidade ao espalhar informações desencontradas sobre o trabalho dos inspetores da agência nuclear da ONU. No centro da polêmica, a base militar de Parchin - à qual a imprensa estatal iraniana havia garantido que os fiscais teriam acesso livre nas novas negociações nucleares acertadas entre Teerã e as potências ocidentais. Amano, porém, disse não ter recebido nenhuma confirmação de que a visita seria viável.
- Eu esperava que o Irã tivesse admitido que a velha abordagem restritiva não era um caminho adiante, e que o Irã estava pronto para se engajar conosco e resolver as questões pendentes. Isso é lamentável - declarou o diplomata japonês.
Suposta transferência de material causa irritação
Numa declaração conjunta, o grupo dos negociadores P5 + 1 - Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha - fez um apelo para que o Irã autorize a inspeção da controversa base, 30 quilômetros a Sudeste de Teerã, onde acredita-se haja um tanque de contenção para promover explosões nucleares, em um indício da pesquisa sobre armas atômicas. O grupo também lamentou o aumento do enriquecimento de urânio no Irã e pediu que o diálogo ocorra "a sério e sem pré-condições".
Parte do otimismo diplomático, no entanto, foi minado pela preocupação e pela irritação provocadas por imagens de satélite divulgadas na noite de quarta-feira. As fotos, reveladas por um dos países-membros da AIEA, sugerem que caminhões poderiam estar sendo usados para descartar material radioativo criado durante testes em Parchin. Ou seja, o governo iraniano estaria promovendo uma limpeza no local para disfarçar suas atividades nucleares antes de permitir o acesso de observadores.
O embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, não reagiu às acusações. Segundo ele, a agência fizera um trabalho "frustrante", passando uma imagem incompleta do que viu e ouviu, no mês passado, em Teerã. E condenou as ameaças de ação militar defendidas por Israel.
- As ameaças do regime sionista violam as resoluções da AIEA. Como o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, já disse, a nação iraniana não busca armas nucleares e nem vai buscar no futuro - assegurou.
Ignorando as polêmicas, em Teerã, Khamenei fez, aliás, um raro elogio ao presidente americano, Barack Obama.
- Ouvimos há dois dias o presidente dos EUA dizer que não estava pensando em uma guerra com o Irã. Estas palavras são boas e uma saída da ilusão - disse Khamenei, emendando, porém, com uma crítica: - Fazer o povo iraniano se ajoelhar por sanções. Essa parte dos comentários mostra que a ilusão deles continua.