Título: Grécia acerta troca de dívida
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Fonte: O Globo, 09/03/2012, Economia, p. 25

Dados oficiais só saem hoje, mas fontes apontam adesão de até 95% dos credores privados

Louisa Gouliamaki/AFP

A Grécia ganhou ontem uma pausa para respirar, ao obter uma forte adesão dos credores privados à sua proposta de troca de dívida. Os números oficiais só serão divulgados hoje, mas fontes do governo disseram à agência de notícias Reuters que a adesão teria ficado em torno de 95%, sendo que 85% dos papéis estariam submetidos à legislação grega, o que facilita o processo. O acordo com os credores privados, crucial para que a Grécia receba um novo socorro de 130 bilhões, prevê a redução do valor de face dos bônus gregos em 53,5%, o que deve acarretar aos credores perdas em torno de 73%. A dívida com os credores privados é de 206 bilhões, e a expectativa é que o acordo possibilite eliminar 105 bilhões.

- Cerca de uma hora antes de o prazo limite acabar, a taxa de participação se aproximava e 95%, e mais respostas continuavam chegando - disse à Reuters um alto funcionário do governo.

A Bloomberg News, no entanto, falava em 85%. Já o canal de TV grego Skai também mencionou a taxa de 95%, mas com a ressalva de que esse percentual incluiria as cláusulas de ação coletiva (CACs), que obrigariam os demais credores a aceitar a troca dos papéis. Do total da dívida, 177 bilhões estão sob a lei grega.

- Extraoficialmente, temos ouvido que a taxa de aceitação ultrapassou os 90% - disse à Bloomberg Hans Humes, presidente da Greylock Capital Management, uma das primeiras a aderir à troca. - O acordo está fechado, e teremos de ver como os mercados reagem.

O ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos, dará uma entrevista coletiva hoje para falar do acordo. Ele ontem se reuniu com o premier, Lucas Papademos, que manifestara confiança:

- Espero uma participação máxima do setor privado, que contribuirá significativamente para os esforços e ajustar e recuperar nossa economia.

FMI discute novo socorro dia 15

O diretor-executivo do Instituto de Finanças Internacionais (IIF) também se mostrou confiante ontem pela manhã, ao participar, no Rio, de uma reunião do órgão. O IIF, que representa os principais credores da Grécia, ajudou a elaborar o acordo.

- Estou bastante otimista, deve haver um acordo nas próximas horas. Acredito que haverá uma altíssima participação dos credores (no acordo). Infelizmente vou desapontar vocês e não vou dizer qual o índice de adesão - afirmou Dallara, acrescentando que os credores poderão receber "algum dinheiro" imediatamente. - Vejo esse acordo como um passo importante para a economia da Grécia se reorganizar, voltar a crescer e a gerar empregos.

Ele também se mostrou atento às preocupações de autoridades brasileiras, como a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre uma falta de coordenação global de medidas macroeconômicas. Dallara acredita que os países ricos poderiam levar em conta os efeitos de suas políticas fiscal e monetária nos emergentes.

O diretor do IIF disse que a Europa ainda tem muitos desafios pela frente, mas os países têm adotado posições mais rígidas em relação à dívida pública. Ele não acredita que outros países da Europa, como Itália, Portugal, Espanha e Irlanda,venham a precisar de um ajuste como o grego.

Aderiram à troca da dívida grega grandes instituições financeiras, como os bancos BNP Paribas, Commerzbank e Deutsche Bank. Na semana passada, o presidente do Commerzbank, Martin Blessing, dissera que "a participação na troca seria tão voluntária quanto as confissões durante a Inquisição espanhola".

Os ministros de Finanças da zona do euro podem dar hoje o sinal verde para o repasse de novos recursos à Grécia. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por sua vez, vai discutir o novo pacote no próximo dia 15. Atenas precisa de recursos para pagar um vencimento da dívida de 14,5 bilhões no dia 20.

Mesmo com uma troca bem-sucedida, os problemas da Grécia não acabam. Cerca de 18 bilhões de sua dívida estão submetidos à legislação de outros países, e vários fundos hedge devem recorrer à Justiça contra o acordo. Os novos bônus ficarão sob a lei britânica. Eles incluem garantias de rendimento extra no futuro, se o crescimento econômico da Grécia for maior que o previsto.

Também não está claro se os credit default swaps (CDS, papéis para proteção contra calote), que alguns investidores adquiriram como um seguro contra uma reestruturação forçada, terão de ser pagos. Algumas agências de classificação de risco haviam alertado que, se os credores fossem obrigados a assumir perdas, a Grécia seria considerada em moratória, o que acarretaria o pagamento dos CDS.

Desemprego bate recorde: 21%

Outro grave empecilho à recuperação da economia grega é o desemprego, que atingiu um novo recorde em dezembro, conforme dados divulgados ontem. O índice atingiu 21%, o dobro da média da zona do euro, de 10,6% no mesmo período. Para os jovens gregos, a situação é ainda pior: 51,1% não têm emprego. É a maior taxa da União Europeia (UE).

A central sindical GSEE estima que o desemprego chegue a 25% este ano. Em nota, a organização disse que a combinação de desemprego elevado com redução de benefícios sociais "cria uma mistura explosiva com consequências sociais imprevisíveis".

COLABOROU Henrique Gomes Batista, com agências internacionais