Título: Outra foto de Herzog reforça tese de farsa
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 09/03/2012, O País, p. 14

Imagem divulgada por Miro Teixeira em site é mais uma prova de que jornalista foi assassinado

Um novo enquadramento da imagem do corpo de Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi em São Paulo, em 25 de outubro de 1975, deve contribuir para a reabertura judicial do caso. A cópia de uma foto e uma carta enviada pelo general Newton Cruz em 23 de janeiro do ano seguinte ao também general e seu chefe no Serviço Nacional de Informações (SNI), João Batista Figueiredo, divulgadas pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) e publicadas no site www.leidoshomens.com.br na última terça-feira, reforçam a tese de que o jornalista teria sido assassinado pelos militares e não cometido suicídio como foi sugerido à época.

- Omitida na época, a foto reforça a farsa do suicídio de Herzog porque mostra mais claramente a posição das grades da cela - disse Miro.

A ocultação da barra ou das barras superiores àquela a que foi amarrado Herzog, na foto distribuída aos jornais na ocasião, "procura induzir à fantasiosa versão de suicídio, que se torna ainda mais inverossímil na foto xerocopiada no panfleto mandado por Newton Cruz a Figueiredo", diz o site ao lembrar que "a cinta passada em torno do pescoço da vítima estava amarrada em uma barra de ferro a 1,63m de altura, o que impedia a suspensão em vão livre do corpo de Vladimir Herzog, cujas pernas se dobravam no chão".

A imagem divulgada pelo Instituto de Criminalística logo após o suposto suicídio de Herzog não mostrava a parte de cima das grades, o que induziu dessa maneira à conclusão de que ele teria se matado e não sido assassinado na cela em que estava preso.

Já a carta enviada por Newton Cruz a Figueiredo indica que havia uma disputa interna de poder no comando do regime. No documento escrito três meses após a morte do jornalista, ele reclama das divergências internas a seu superior no SNI, com um bilhete onde atesta, entre outras informações, que a tal fotografia não fora distribuídas aos jornais.

Newton Cruz dizia ainda na carta que seus "detratores pertencem ao CIE ou à AC/SNI", (Centro de Inteligência do Exército e Agência Central do Serviço Nacional de Informações, respectivamente). E citava panfletos que o ofendiam com frases de "traidor e cachaceiro". Um dos advesários de Cruz, na época, era o então coronel Alberto Fortunato, também ligado aos serviços de informação do período.

Tal disputa interna ocasionou, quatro dias antes de a carta ser enviada, na demissão do general Ednardo D´Ávila Mello, do comando do 2 Exército de São Paulo, e responsável pelas dependências do DOI-Codi onde Herzog e o metalúrgico Manuel Fiel Filho (janeiro de 1976) foram mortos.