Título: Cachoeira ofereceu R$ 100 mil a petista
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Fonte: O Globo, 10/03/2012, O País, p. 14

Em vídeo, empresário acusado de comandar jogo ilegal negocia doação ao deputado Rubens Otoni, de Goiás

BRASÍLIA. Acusado de comandar jogos de caça-níqueis em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, negociou a doação de R$ 100 mil para um suposto caixa dois de uma das campanhas eleitorais do deputado Rubens Otoni (PT-GO). Dois vídeos em que Cachoeira e Otoni aparecem combinando a ajuda foram divulgados ontem pela site da revista "Veja". O vídeo foi gravado por Cachoeira. Ele foi preso semana passada na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Na operação, foram registradas conversas de Cachoeira, mais de 200 delas com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Na primeira conversa entre Cachoeira e Otoni, os dois aparecem sentados num sofá. Em tom confidencial, Cachoeira promete dar R$ 100 mil para o deputado, da mesma forma que teria feito num momento anterior. No diálogo não fica claro quando isso teria acontecido.

- Tomei a posição seguinte: te ajudei em 100 mil e vou de ajudar em mais 100 mil meu.

- Eu agradeço - responde Otoni, antes de se levantar e sair.

No segundo diálogo, também no sofá, Cachoeira diz, em tom de conspiração, que a doação não deve ser declarada à Justiça Eleitoral. Por algum motivo, ele não poderia aparecer como autor da ajuda. O trecho divulgado da conversa é curto.

- E os 100 mil não declara não - pede Cachoeira.

Otoni ouve a proposta ilegal e imediatamente concorda.

- Não, claro que não - promete.

Segundo a revista, Otoni disse que a conversa foi filmada em 2004, durante a campanha à prefeitura de Anápolis. Cachoeira queria ajuda para recuperar uma de suas empresas e Otoni diz que não atendeu o pedido. Desde então, Cachoeira passou a ameaçá-lo com a divulgação das imagens. Pelas informações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, Cachoeira manteve frequentes contatos com autoridades. Consta na investigação que Cachoeira deu eletrodomésticos de presente para Demóstenes.

O senador confirmou o recebimento, mas disse que não sabia das atividades suspeitas de Cachoeira. As informações sobre os laços entre Cachoeira e os políticos deverão ser enviadas aos tribunais superiores. Cachoeira e mais 30 pessoas foram presas semana passada numa das maiores operações da Polícia Federal desde o início do governo da presidente Dilma Rousseff. Depois de preso, ele foi levado para o presídio federal de segurança máxima em Mossoró, Rio Grande do Norte.

Entre acusados de envolvimento com supostos crimes de Cachoeira estão dois delegados da Polícia Federal, seis delegados da Polícia Civil de e aproximadamente 30 soldados, cabos e oficiais da Polícia Miliar de Goiás.

Cachoeira é acusado de corromper servidores públicos para proteger seus negócios. Policiais eram orientados também a destruir casas de jogos de adversários de Cachoeira. As propinas aos policiais variavam de R$ 200,00 por dia a R$ 4 mil por mês, conforme a investigação da PF. Rico e poderoso, Carlinhos Cachoeira teria criado uma extensa rede de apoio político.