Título: Inflação oficial desacelera a 0,45%
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 10/03/2012, Economia, p. 27

No ano, IPCA fica em 1,01% e, em 12 meses, acumula alta de 5,85%

Fabiana Ribeiro; João Sorima Neto

RIO e SÃO PAULO. Os alimentos e os transportes - que corresondem a praticamente metade do orçamento das famílias - deram um alívio em fevereiro. E assim os dois grupos levaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a desacelerar para 0,45%, abaixo dos 0,56% de janeiro. No ano, o índice ficou em 1,01%, também menor do que em fevereiro de 2011 (1,64%). Em 12 meses, acumula alta de 5,85%.

- O comportamento dos preços dos alimentos e dos transportes mais do que compensou a alta sazonal da educação (de 0,39% em janeiro para 5,62% em fevereiro). Ainda assim, esse segmento, que reflete os reajustes do início do ano letivo, foi o principal responsável pela inflação no mês, respondeu por 54% da taxa - disse Eulina Nunes, economista do IBGE.

Juro real pode vir a ser o menor da história do país

O grupo de alimentos e bebidas saiu de uma alta de 0,86% em janeiro para 0,19% em fevereiro. Vários alimentos ficaram mais baratos em fevereiro. É o caso das carnes (de -0,64% para -1,99%), do tomate (de 8,09% para -16,96%) e do açúcar refinado (de -0,75% para -3,67%).

- Nossa expectativa é que os alimentos colaborem para desacelerar o IPCA. Mas, para o IPCA de março, projetamos alguma aceleração, até pela aceleração projetada dos preços de aves e ovos - disse Fábio Romão, economista da LCA Consultores, para quem a inflação de março pode ficar em torno de 0,45%.

Já os Transportes (de 0,69% para -0,33%) foram fortemente influenciados por passagens aéreas (8,84%). A gasolina variou -0,40% em fevereiro por causa da maior queda de preços do etanol, que foi de 2,87%, contra recuo de 1,25% em janeiro.

Para Luis Otávio Leal, economista do banco ABC Brasil, os números divulgados pelo IBGE corroboram um cenário de inflação em desaceleração em 12 meses preconizado pelo Banco Central. E, com uma inflação desacelerando, há espaço para novos cortes dos juros básicos da economia. Ele alerta, contudo, para o fato de que é preciso ficar atento ao comportamento dos preços, especialmente no segundo semestre quando a economia volta a ficar mais aquecida.

Se o cenário traçado por analistas para a inflação e a Selic se concretizar até dezembro, o Brasil caminha para ter a taxa de juro real mais baixa de sua história. Após a redução de 0,75 ponto percentual da Selic, na última quarta-feira - para 9,75% -, o mercado estima que a Selic chegue a 8,5% no fim do ano; já a estimativa para a inflação oficial, medida pelo IPCA, é de 5,5%. Com isso, o país teria uma taxa de juro real de 2,84%, segundo o economista Jason Veira, da corretora Cruzeiro do Sul, que elabora um ranking dos juros reais com taxas praticadas em 40 países.

- Se este cenário se concretizar, teremos em dezembro uma taxa de juro real de 2,84%. Seria a menor da história - diz Vieira.

Em junho de 2010, quando a Selic estava em 8,75% e a inflação em 4,5%, o juro real no Brasil ficou em 3,8%.

Com o último corte da Selic, o Brasil tem um juro real de 4,2% ao ano, ainda o mais alto do mundo. Segundo o ranking elaborado pelo economista Jason Vieira, o Brasil fica em primeiro lugar, seguido de Rússia (3,4%) e Indonésia (2,1%). Vieira afirma que, mesmo se o Brasil já tivesse juro real de 2,84%, ainda estaria entre os três primeiros colocados no ranking.