Título: Notícia enganosa
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 11/09/2009, Cidades, p. 25

No dia dedicado ao cerrado, estudo mostra que, de 2002 a 2008, apenas 78km quadrados do bioma foram destruídos no DF. Mas a situação é complicada pela ocupação desordenada

Indígenas discutem em Brasília, até domingo, a utilização dos recursos naturais do cerrado de forma sustentável

O Distrito Federal ocupa o último lugar na lista das 12 unidades federativas com situação de desmatamento nas áreas de cerrado, cujo dia nacional é celebrado hoje. O estudo inédito do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), divulgado ontem pelo governo federal, mostra que, no período entre 2002 e 2008, foram exterminados 78 quilômetros quadrados da área do bioma em Brasília. Isso corresponde a um desmatamento de 1% ao ano do território original na capital federal, erguida numa região formada por 100% de Cerrado. No topo do ranking está o Maranhão, com 11% de área desmatada no mesmo período.

À primeira vista, os números mostram que há maior controle do desmatamento no DF em relação aos outros estados. No entanto, essa interpretação positiva esbarra na questão territorial e de produção econômica de cada região, segundo ressalta a geógrafa e integrante do Fórum das Ongs Ambientalistas, Mara Moscoso. A especialista diz que, ao contrário das outras localidades, o DF não tem vocação para o agronegócio ¿ como plantações de soja e a criação de gado ¿, considerado um dos principais causadores do desmatamento no segundo bioma com maior biodiversidade do país, atrás da Amazônia.

Moscoso foi uma das consultoras do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no cerrado (PPCerrado), lançado ontem pelo MMA como uma das ações do Dia Nacional do Cerrado. ¿Apesar de possuir a menor proporção de área desmatada, a situação do DF é grave porque é causada pela expansão urbana descontrolada. A ocupação desordenada pelo homem compromete a conservação das maiores bacias hidrográficas do Brasil, que nascem no bioma cerrado. Se o DF não cuidar do cerrado, não terá água no futuro¿, explica a geógrafa.

Conforme dados do PPCerrado, no período de 1990 a 2000, o DF aumentou sua população em quase 500 mil habitantes. Esse fato se deve, em parte, ao adensamento da região do Entorno. Segundo trecho do PPCerrado, esse fato ¿trouxe problemas sociais e econômicos para a capital, pois praticamente 60% dessa população de migrantes dependem dos seus serviços¿.

Uma das medidas previstas no PPCerrado para proteger o bioma é a elaboração do macrozoneamento dos 2.047 milhões de quilômetros de área remanescente de Cerrado no país até 2010. O macrozoneamento é uma espécie de mapeamento do território onde há o bioma. A proposta é usá-lo para subsidiar a política pública de proteção do cerrado. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) já contratou uma empresa para fazer o serviço no cerrado do DF. O PPCerrado encontra-se em consulta pública no site do MMA (www.mma.gov.br).

Programação

Dados divulgados ontem pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, revelam que, de sua cobertura florestal original, o cerrado já perdeu 48,5%. A preocupante informação fortalece o movimento para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 115/95, que considera o bioma como patrimônio nacional. Ontem, houve audiência na Câmara dos Deputados para discutir o assunto com a população e os parlamentares.

Hoje, a partir das 10h, será realizado um protesto no gramado em frente ao espelho d¿água do Congresso Nacional com manifestantes vestidos de amarelo. Eles formarão, com os próprios corpos, a frase SOS Cerrado no local. E, até domingo, acontece no Memorial dos Povos Indígenas, no canteiro central do Eixo Monumental, o VI Encontro Nacional e Feira dos Povos do Cerrado. O evento é uma oportunidade para a troca de experiências entre os diversos povos que habitam e utilizam os recursos naturais do cerrado de forma sustentável.