Título: Às claras
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 16/03/2012, Economia, p. 26

A ata do Copom foi esclarecedora. Depois de anunciar de forma telegráfica o corte na taxa básica de juros em 0,75 ponto, na semana passada, o Banco Central detalhou ontem na ata seus motivos. E foi além, ao sinalizar o que pretende até o fim de 2012, ou seja, o piso da Selic para o ano, de 9%. O documento traz informações importantes sobre os cenários para a economia, que refletem também os desafios que o governo tem pela frente para fazê-la crescer.

Fica claro, por exemplo, que o crescimento em 2012 depende muito mais do mercado interno, pois as fontes externas que turbinaram o PIB no passado recente estão secando.

O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, destaca alguns pontos da ata que considera relevantes. Um deles é a confirmação de que houve uma deterioração do cenário externo maior do que o esperado e isso vai permanecer por um bom tempo. O mega estímulo que o Brasil vinha recebendo por meio da balança comercial estancou e já se observa um movimento no sentido contrário.

- Andar com as próprias pernas é o maior desafio no momento - destaca.

Outro aspecto importante é a ênfase que o Banco Central deu na ata à política fiscal. Na visão do economista, está claro que a estratégia para viabilizar a redução dos juros passa por uma política fiscal restritiva, com cortes em despesas e um esforço para cumprir a meta de superávit primário cheia, como prometido pela equipe econômica. O problema é que o impacto negativo do ajuste fiscal pesará mais no PIB do que o estímulo positivo da política monetária. Nessa equação, as variáveis puxam mais o produto para baixo do que para cima.

- A política fiscal vai puxar pra baixo, o setor externo, também, e os investimentos não serão tão fortes por conta da ociosidade da indústria - destaca.

O economista Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil, lembra que se a economia crescer estimulada pelo consumo interno há o risco de a inflação de serviços, que já pressiona o índice, aumentar e a indústria recorrer cada vez mais às importações, prejudicando a balança comercial e aumentando a vulnerabilidade externa.

Leal viu na ata a intenção clara do BC no sentido de estimular o crescimento, mas destaca um outro recado, que é o comprometimento com o sistema de metas e o controle da inflação.

- Sinalizar com juros de 9% foi uma tentativa de frear as expectativas de inflação. O BC quis dizer que tem um piso para os juros e, portanto, não está rasgando o manual.