Título: Barreiras ao dólar só no curto prazo
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Fonte: O Globo, 18/03/2012, Opinião, p. 6

A economia brasileira é hoje uma das maias atrativas para investidores estrangeiros. Vistas antes como portos seguros, as economias das chamadas nações desenvolvidas atravessam um período de incertezas e é natural que os gestores de recursos busquem mercados mais promissores. E o Brasil tem se mostrado como tal, pela perspectiva de crescimento, com fundamentos que projetam o país para um novo patamar, de renda média alta, no fim desta década. Além disso, no plano político, o Brasil é uma democracia, nos moldes ocidentais, com independência dos poderes e instituições consolidadas.

Do ponto de vista puramente financeiro, a economia brasileira tem sido atrativa aos gestores de capitais estrangeiros porque, devido a razões estruturais ainda não superadas, nossas taxas de juros se situam bem acima da média internacional. Elas vêm diminuindo, em termos nominais e reais, porém é pouco provável que se nivelem no curto prazo às taxas oferecidas nos principais mercados financeiros, que chegam a ser negativas (variando menos que a inflação) em face do enfraquecimento das economias do Primeiro Mundo. O Brasil deve acelerar o crescimento ainda este ano, e será preciso conciliar essa expansão com um esforço de redução da inflação. Se comparadas às que vigoraram no passado, as taxas de juros hoje estão muito mais baixas no país, mas, para que continuem em queda, alguns avanços estruturais terão de ocorrer, especialmente no que se refere à trajetória das finanças públicas.

Diante dessa realidade, o ingresso de capitais estrangeiros no país, sob várias modalidades, supera com folga os compromissos da economia brasileira com o exterior. Parte das sobras é adquirida no mercado de câmbio pelo Banco Central e se acumula nas reservas internacionais, atualmente em US$ 355 bilhões, valor muito superior à dívida externa, por exemplo. As reservas dão tranquilidade aos investidores e sem dúvida serviram de escudo de proteção para que o Brasil não fosse atingido seriamente, como em ocasiões anteriores, pela crise financeira na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, mantê-las altas significa absorver um custo fiscal que é considerável, pois a compra de dólares excedentes é feita tendo como contrapartida a emissão de títulos públicos, com juros bem maiores que os rendimentos obtidos com a aplicação das reservas. Mas este é o preço da segurança.

Para evitar que o ingresso de capitais ocasione uma valorização indesejável do real (apontada como uma das principais razões para as dificuldades que a indústria enfrenta na competição com os produtos importados), o governo resolveu criar obstáculos a certas operações. Até aqui, felizmente, essas barreiras têm sido convencionais, sem quebrar as regras dos mercados. Não há proibição para a entrada ou saída de recursos, mas sobre as operações a prazos mais curtos passou a incidir um imposto (o IOF) que reduz ganhos financeiros.

Trata-se de um paliativo (que pode ser até necessário, no curtíssimo prazo). Mas o que a economia brasileira precisa mesmo é de mudanças estruturais que assegurem condições de um crescimento mais sustentável, com inflação e juros baixos, normalidade no crédito, regime tributário adequado, etc.