Título: Beltrame comemora condenação de bicheiros
Autor:
Fonte: O Globo, 15/03/2012, Rio, p. 15

Para secretário, que voltou a defender a criminalização do jogo do bicho, sentença atende a anseio da sociedade

RIO e DOHA (Qatar). O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, elogiou ontem a sentença da juíza Ana Paula Viera de Carvalho, da 6ª Vara Criminal Federal, que condenou anteontem 23 pessoas ligadas à máfia do jogo do bicho no Rio, prendendo os contraventores Aniz Abrahão David, o Anísio; Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; e Antonio Petrus Kalil, o Turcão. Os três foram sentenciados a mais de 48 anos de prisão cada um e terão que pagar, juntos, R$33 milhões em multas. Além deles, foram presos outros cinco acusados. E dois que tiveram a prisão decretada continuam soltos: um está foragido e outro está viajando, com autorização judicial.

- Essa é uma pena exemplar, que vinha sendo cobrada pela sociedade. A sentença mostra que a sociedade não deseja o criminoso perto dela. Foi uma investigação federal (da PF) que resultou nessa condenação, mas isso ajuda na nossa política de combater qualquer tipo de organização criminosa, seja tráfico, milícia ou o bicho - disse Beltrame, que está em Doha num congresso sobre segurança em eventos esportivos, organizado pelo International Centre For Sports Security.

Beltrame voltou a defender mudanças na legislação para que o jogo do bicho passe a ser considerado crime, e não apenas contravenção. O secretário disse que seria desejável que os contraventores cumprissem pena fora do Rio, mas destacou que essa é uma decisão que caberá à Justiça Federal.

O procurador da República Orlando Cunha, um dos responsáveis pelo inquérito da Operação Hurricane, espera que, desta vez, os bicheiros permaneçam presos:

- Que os sólidos fundamentos lançados na sentença sensibilizem os magistrados integrantes de côrtes superiores, no caso o STF (Supremo Tribunal Federal), de modo a impedir que os condenados presos não ganhem a liberdade, pois assim, eles voltariam a operar no esquema criminoso.

Parte dos acusados que foram presos, incluindo Capitão Guimarães, está em Bangu II. Segundo a Secretaria estadual de Administração Penitenciária, eles usam uniforme de presidiário (calça azul-escuro e camisa verde) e estão na mesma galeria, mas em celas individuais. Já Anísio está internado num hospital privado, sob custódia, e Turcão, em prisão domiciliar.

Especialista defende combate a atividades lucrativas

A prisão dos bicheiros da cúpula da contravenção no Rio foi avaliada de forma diferente por especialistas. Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), prender os chefes "não é suficiente para desmontar a organização do bicho":

- É importante combater as atividades lucrativas. Combater a atividade econômica dessa organização levaria à sua desarticulação, com o seu enfraquecimento.

Coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências, da Uerj, a antropóloga Alba Zaluar disse que é preciso investigar agora se essa nova geração de bicheiros - filhos, sobrinhos e primos dos chefões presos - está envolvida com o tráfico, como aconteceu com na máfia italiana.