Título: Na Câmara, Dilma troca Vaccarezza por Chinaglia
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 14/03/2012, O País, p. 9

PMDB avalia que escolha de novo líder do governo enfraquece candidatura de Henrique Alves à presidência da Câmara

Isabel Braga, Cristiane Jungblut

CRISE ENTRE ALIADOS

BRASÍLIA. Um dia depois de trocar a liderança do governo no Senado, a presidente Dilma Rousseff também mexeu na liderança na Câmara: substituiu Cândido Vaccarezza por outro petista da bancada paulista, Arlindo Chinaglia. A decisão de Dilma de trocar seus líderes não causou constrangimento apenas nos peemedebistas do Senado. Na Câmara, a escolha do turrão Chinaglia foi recebida, nos bastidores, com ressalvas e desconfiança de que a situação na base vai desandar. Para os peemedebistas, a preferência por Chinaglia enfraquece a candidatura do atual líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), à presidência da Câmara.

O destituído Vaccarezza, ao se despedir, teve a solidariedade dos colegas e não escondeu a mágoa pela forma como foi dispensado. Ele é classificado como parceiro de Henrique, enquanto Chinaglia, mais autônomo, é lembrado como um nome do PT para voltar a comandar a Casa.

A escolha de Chinaglia foi um agradecimento de Dilma por sua atuação como relator do Orçamento da União de 2012, quando sofreu o desgaste de não dar reajuste a servidores ou ao Judiciário, cumprindo o que a presidente determinara. Segundo interlocutores, Dilma optou por Chinaglia por sua firmeza e por ele não temer se indispor com colegas para seguir ordens do governo.

No PT, setores resistiam à indicação de Chinaglia e trabalhavam para a escolha do deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Segundo dirigentes do partido, Chinaglia teria que aparar arestas internas antes de ser anunciado. Mas a presidente, com seu estilo de decidir sozinha, já havia avisado a alguns ministros, na segunda-feira, que escolhera Chinaglia.

Ciente das preocupações na base, Chinaglia defendeu o acordo entre PT e PMDB para a próxima eleição da presidência da Câmara, em 2013. Ele lembrou que sua eleição para presidente da Casa, em 2008, foi garantida por acordo semelhante:

- Como líder do governo, só trato de coisas do governo. Querem me atribuir a possibilidade de vir a ser presidente da Câmara. Isso nunca esteve em discussão, e, agora, menos ainda. Não posso trabalhar com fantasmas que não são meus.

Em discurso no plenário, o líder Henrique Alves procurou mostrar tranquilidade e foi enfático ao dizer que não acredita no rompimento do acordo pelo PT:

- Já começaram as pequenas intrigas, mas a política tem que ser maior. Isso não pega. O Chinaglia sempre honrou seus compromissos com o PMDB.

Vaccarezza foi para a reunião com Dilma, na manhã de ontem, sabendo que seria trocado. Os dois conversaram por mais de uma hora, e ele fez questão de participar da sessão do Congresso na qual a presidente foi homenageada. Mas saiu enquanto Dilma discursava para confirmar à imprensa sua substituição.

- Podemos ser trocados por sermos incompetentes, por não sermos leais e por questão política. Minha troca foi por razão política. Na Câmara, o governo só teve vitórias. Estou preparado para ser general ou soldado. Temos 513 deputados. Sou mais um deles. Jamais vou votar contra o governo na Câmara. Não sou dissidente - afirmou Vaccarezza.

Ao ser anunciado oficialmente, Chinaglia afirmou que irá trabalhar para garantir a unidade da base e ampliar o debate do governo com a Casa:

- A gente não pode se impressionar com as dificuldades. Minha tarefa é trabalhar para aglutinar a base em torno do projeto que a presidente Dilma representa. Tem que ter diálogo, convencimento. E diálogo não é um caminho de uma mão só.