Título: Brasileiro é morto por policiais australianos
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Fonte: O Globo, 20/03/2012, O País, p. 9

Estudante paulista teria sido confundido com jovem que furtou pacote de biscoito; o corpo ainda não foi identificado

Reprodução da internet

RIO e SÃO PAULO. Um estudante brasileiro de 21 anos foi morto por policiais, na madrugada de domingo, em Sidney, Austrália. O paulista Roberto Laudisio tinha ido a uma festa com amigos e voltava sozinho para casa, por volta das 5h30m, quando foi abordado por policiais. As circunstâncias ainda não estão totalmente esclarecidas. Os policiais o teriam confundido com um jovem que roubou um pacote de biscoito em loja de conveniência. Roberto morava na Austrália desde julho de 2011, e tinha se mudado para estudar no exterior.

- Uma testemunha contou que a polícia atirou com uma pistola de choque e usou gás de pimenta. Ele caiu no chão, e os policiais ficaram chutando e pisando na cabeça dele, que gritava por socorro. Foi brutal - conta Daniel Silva, de 31 anos, que vive em Sidney há três anos e conheceu Roberto há sete meses.

Segundo ele, Ana Luisa Laudisio, irmã de Roberto, que é casada com um australiano desde 2010 e mora em Sidney, soube da morte do irmão quando foi a uma delegacia registrar o desaparecimento do rapaz:

- Ela foi dar queixa do sumiço e aí foi informada. Roberto era um cara tranquilo. Tinha acabado de arrumar o primeiro emprego, num café, e estava feliz. Ele não precisava do dinheiro, porque a família tem uma boa condição financeira, mas queria trabalhar. Acabou o curso de inglês e se matriculou num curso preparatório para a faculdade.

No site do jornal "The Sydney Morning Herald", uma testemunha conta que "ele estava sem camisa e correndo. (...) Eu o ouvi dizer "ajude-me" e ele continuou gritando e tentando lutar". Ela diz ainda que o rapaz caiu no chão, policiais pularam em cima dele e que havia muito barulho das armas de eletrochoque: "Os gritos pararam. Eu achei que ele tinha desmaiado".

Comissário assistente da polícia de Sidney, Mark Walton disse em entrevista coletiva que os agentes não tinham certeza se o brasileiro estava ou não envolvido no roubo:

- Não está claro quanto ao envolvimento do homem.

Walton disse que não podia dizer se o jovem estava armado ou sob efeitos de drogas ou álcool:

- Nós não sabemos o que causou a morte. Isso será uma questão para o inquérito e legista.

A polícia australiana não esclareceu como o rapaz morreu com armas de choque, usadas para mobilizar suspeitos.

Roberto tinha duas irmãs, Maria Fernanda, que vive no Brasil, e Ana Luisa. Eles fazem parte de uma família de classe média alta de São Paulo, nos arredores do bairro nobre de Higienópolis, e são órfãos de pai e mãe. O estudante tinha ainda um irmão por parte de pai.

O Itamaraty divulgou que havia conversado ontem, por volta das 19h de Brasília, com uma autoridade diplomática na Austrália e que o processo de identificação do corpo ainda não havia sido realizado. Por conta disso, ainda não havia a confirmação oficial de que o jovem morto era o brasileiro. Informou ainda que uma pessoa da família de Roberto já havia viajado para a Austrália e estava recebendo apoio do consulado em Sidney.

O GLOBO tentou entrar em contato com parentes de Roberto em SP, a irmã Maria Fernanda e a tia Maria Cecília. Por meio da assessoria de imprensa da universidade onde trabalha, Maria Cecília disse que não estava em condições de falar. A irmã deu orientações no trabalho para não ser incomodada.