Título: Morto por causa de um pacote de biscoitos
Autor: Benevides, Carolina; Castro, Juliana
Fonte: O Globo, 21/03/2012, O País, p. 3

Mistério cerca morte de brasileiro na Austrália; amigos organizam protesto

Três dias após a morte do estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti, de 21 anos, em Sidney, na Austrália, o episódio permanece um mistério. Além do laudo, ainda não foram divulgadas as imagens da câmera de segurança da loja de conveniência de onde, suspeita a polícia australiana, o jovem teria furtado um pacote de biscoitos e, em seguida, imobilizado até a morte com disparos de armas de choque.

Amigos de Roberto vão fazer um protesto no dia 30 de março em frente ao Consulado Geral da Austrália em São Paulo. O convite está sendo feito pelo Facebook e todos estão sendo convocados a levar um pacote de biscoitos para deixar na porta do consulado. "Já que ele foi morto por um pacote de biscoitos, devolveremos o quanto pudermos de biscoitos para este país de primeiro mundo que se chama Austrália", diz a campanha no Facebook.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, cobrou ontem apuração rigorosa sobre o assassinato e determinou que o consulado-geral em Sydney e a embaixada em Canberra acompanhem as investigações. Em nota, o Itamaraty disse ontem que "deplora a notícia da morte em circunstâncias ainda não esclarecidas".

O governo de Nova Gales do Sul, estado onde fica Sidney, nomeou um ouvidor para acompanhar a apuração do caso. Primeiro-secretário da Embaixada da Austrália no Brasil, Goran Nuhich lamentou a morte do estudante, e informou que a polícia de Sidney vai conduzir as investigações.

- Na Austrália, existe uma espécie de controladoria-geral, não formada por policiais, que vai acompanhar as investigações feitas pela polícia. Além disso, temos um grupo de magistrados que costuma acompanhar a (investigação das) mortes não naturais. Ainda não temos a confirmação oficial de que esse grupo fará parte do caso, mas é provável, pois esse é o trâmite no país.

Segundo Nuhich, até ontem, ainda não havia nenhum laudo sobre a causa da morte do estudante, que estava na Austrália desde julho de 2011, onde estudava inglês. Uma de suas irmãs, Ana Luisa Laudisio, é casada com um australiano e vive em Sidney. Roberto morreu após policiais usarem armas que disparam choque para contê-lo.

Ontem, pela primeira vez desde o ocorrido, a família do brasileiro falou sobre a situação. O jornal australiano "Sydney Morning Herald" publicou nota divulgada pelos parentes e informou que um tio de Roberto e outra irmã do jovem já estão na Austrália: "Nós ainda estamos tentando entender a perda súbita e inesperada do nosso amado Roberto, que se deu em uma trágica morte no domingo de manhã. Ele era um jovem muito amado pela família e por seus vários amigos, tanto na Austrália quanto no Brasil, e tinha um futuro promissor pela frente. Nós vamos sentir sua falta imensamente".

Desespero por informações

A rede australiana de TV ABC News divulgou entrevista do cônsul-adjunto do Brasil em Sydney, André Costa, na qual ele diz que as informações da polícia até o momento não foram satisfatórias.

- Estamos muito preocupados com qualquer informação sobre as circunstâncias de sua morte. A família não consegue entender tudo, então, eles estão desesperados por informações.

Ao "Bom dia Brasil", da TV Globo, o cônsul informou que o caso está sendo investigado:

- A gente espera que sejam logo elucidadas as circunstâncias da morte. Porque, em princípio, a se confirmar, é algo totalmente desmesurado. Um disparado de Taser (a arma que emite choque) já é algo muito forte, sobretudo vários disparos. Aí se transforma a Taser numa máquina letal.