Título: ANP confirma erro da Chevron
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 21/03/2012, Economia, p. 19

Marinha faz novo sobrevoo em aeronave de propriedade da empresa

Bruno Rosa, Liana Melo e Marcio Beck

RIO e BRASÍLIA. O relatório da Agência Nacional de Petróleo (ANP) sobre o vazamento de petróleo da Chevron vai indicar erro da companhia americana, repetindo a avaliação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Segundo fontes, o documento, que está em revisão final, vai apontar que a companhia avaliou de forma errônea a pressão para furar o poço no campo de Frade, o que teria gerado o derramamento de novembro.

Em nota, a Chevron negou que tenha sido imprudente ou negligente no Brasil: "A empresa segue as melhores práticas da indústria no Brasil e em todos os lugares onde opera no mundo".

Os técnicos da Marinha voltaram a fazer ontem sobrevoo na região, comprovando uma mancha de fina camada de óleo, que estaria se reduzindo. O voo da Marinha foi novamente realizado em aeronave da Chevron.

O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, ressaltou mais uma possível falha da Chevron. Segundo ele, dois engenheiros do setor de petróleo que analisaram os dados da petrolífera informaram que a empresa revestiu apenas metade dos 1,2 mil metros entre o "chão do mar" e o fim do poço.

Diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe-UFRJ, Segen Estefen destacou que é preciso separar a investigação penal da técnica, e disse que faltam dados mais precisos para avaliar a influência da pressão acima do limite.

Procurador não descarta

prisão de envolvidos

Petrobras e Japão Frade, que participam do consórcio com a Chevron, também devem ser responsabilizadas administrativa e criminalmente pelos efeitos do acidente, para o advogado Claudio Araújo Pinho, especializado em petróleo e gás. Pinho destaca, no entanto, que seria preciso avaliar o contrato entre as empresas para determinar estas responsabilidades. Mas para o advogado Rogério Zouein, especializado em direito ambiental, a responsabilidade solidária só pode ser aplicada pelo Ministério Público na esfera cível, que lida com a reparação do dano, mas não na criminal.

A 1 Vara Federal de Campos determinou que 15 dos 17 funcionários e executivos da Chevron e da Transocean entreguem seus passaportes em um prazo de 24 horas a partir do recebimento da intimação, que deve ocorrer hoje. Segundo o juiz Cláudio Girão Barreto, Brian Mara e Gary Marcel Slaney, da Transocean, empresa que perfurou o poço, tiveram autorização para deixar o país, pois tinham passagens compradas antes do acidente.

O procurador da República em Campos Eduardo Oliveira "não descarta" a possibilidade de pedir a prisão dos envolvidos no acidente da Chevron. O procurador apresentará hoje a denúncia à Justiça Federal de Campos.

O presidente da Chevron no Brasil, George Buck, foi convidado para prestar esclarecimento em uma audiência amanhã no Senado. Além dele foram convidados Magda Chambriand, presidente da ANP, Curt Trennepohl, presidente do Ibama, o procurador Oliveira e o delegado da PF Fábio Scliar.

A Chevron, que protocolou ontem na superintendência do Ibama no Rio esclarecimentos sobre o vazamento, não comentou os rumores sobre deixar o Brasil. A Petrobras não comentou se teria interesse em comprar a parte da Chevron no campo, caso a companhia saia mesmo do país. Ontem foi decidido, em reunião entre ANP e o consórcio, pedir às empresas o aprofundamento dos estudos sobre o novo vazamento de petróleo.

A revista "Forbes" criticou as autoridades brasileiras por exageros e diz que o Brasil está transformando a Chevron em sua BP, em referência ao vazamento do Golfo do México. (Colaboram Henrique Gomes Batista e Danilo Fariello)