Título: Em nome de todas as vítimas
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Fonte: O Globo, 22/03/2012, Opinião, p. 7

A Eletrobrás Eletronuclear decidiu construir junto ao seu Centro de Informações em Angra dos Reis o Memorial aos Mortos em Acidentes em Centrais Nucleares. No Memorial serão encontradas plaquetas metálicas referenciando nominalmente todos aqueles que "tombaram em serviço" como decorrência de acidentes nucleares e acidentes de trabalho, sem conexão com a radiação, na Central Nuclear Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, desde a criação da empresa, em 1 de agosto de 1997.

Para melhor informar ao público, serão encontrados também neste Memorial os nomes de todas as vítimas da radioatividade como decorrência de acidentes em todas as centrais nucleares existentes no nosso planeta. Esse registro terá como referência a data de fundação da Eletronuclear, mas englobará também as vítimas da radioatividade na população residente nas "zonas de planejamento de emergência" das usinas, ou seja, no circulo de 15 Km de raio ao redor da central acidentada. As vítimas da radioatividade no recente acidente da Central Nuclear de Fukushima Daichi obviamente terão seus nomes lembrados e referenciados no Memorial em Angra dos Reis. Está sendo solicitado o apoio, com informações, da World Association of Nuclear Operators (Wano) e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para que os dados sejam fidedignos.

A energia nuclear foi apresentada à humanidade nos holocaustos de Hiroshima e Nagasaki. Milhares de civis não envolvidos na guerra desapareceram e jamais serão encontrados. É natural, portanto, que no "imaginário" haja rejeição a esta forma de energia. As ONGs com interesse geopolítico usam este temor no inconsciente coletivo da população ainda não devidamente informada.

O governo da Sra. Angela Merkel, primeira-ministra alemã, pouco antes do acidente de Fukushima, havia alterado para 2032 o prazo legal de interrupção do funcionamento das usinas nucleares, votado anteriormente para ocorrer em 2022. Como no momento do acidente a sua "sustentabilidade política" era questionável, ela decidiu precipitadamente que o seu país prescindisse da contribuição desta importante fonte primária de produção de energia elétrica, voltando atrás na sua própria decisão. Se a sustentabilidade política da Sra. Merkel na ocasião do acidente fosse tão boa como é agora, devido à sua atuação na crise do Euro, o futuro energético da Alemanha em curto prazo seria mais tranquilo. É comum o fato de políticos com baixa sustentabilidade ocasional na opinião publica tentarem usar a "muleta do inconsciente antinuclear" como auxílio. É curioso ainda o fato de a Sra. Merkel não se pronunciar sobre a existência de mais de uma centena de armas nucleares estacionadas em solo alemão, parte delas sob controle direto da Luftwaffe.

O ser humano convive com a radiação no seu cotidiano, ela existe em todos os lugares e não podemos viver sem ela. Em alguns lugares como Marataízes, no Espirito Santo, seu nível é um pouco mais alto, porém a evidência milenar indica claramente que não existe nenhuma degeneração humana ou nos animais como consequência deste ambiente radioativo mais intenso. A média das doses anuais de radiação de várias regiões do mundo com maior nível de radioatividade e com população claramente sadia foi adotada como a dose máxima que um trabalhador na indústria nuclear pode receber. Esta dose anual acumulada é claramente medida e controlada. Infelizmente os trabalhadores nas outras indústrias não nucleares ainda não podem contar com esta experiência, mas a determinadas ONGs não interessa tal esclarecimento.

O memorial de Angra dos Reis terá importante caráter informativo, provocará a reflexão e nos ajudará escoimar os exageros de propaganda de determinadas ONGs, com DNA internacional e forte viés geopolítico, que continuam a utilizar o inconsciente coletivo antinuclear a serviço dos seus interesses. Ele nos mostrará que o número de vitimas na explosão dos bujões de gás do restaurante Filé Carioca, no Rio, foi superior ao decorrente do acidente de Fukushima, e que não isso deve ser confundido com as vítimas do terremoto e do tsunami.

OTHON LUIZ PINHEIRO DA SILVA é engenheiro e diretor-presidente da

Eletrobras Eletronuclear.