Título: Corregedora: estrutura do Judiciário é arcaica
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Fonte: O Globo, 24/03/2012, O País, p. 12

Eliana Calmon defende "choque de gestão" para prevenir a corrupção e diz que foi "ousada" ao investigar o TJ-SP

SÃO PAULO. A corregedora-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, voltou a fazer críticas ontem ao Poder Judiciário, que, em sua opinião, possui uma estrutura "arcaica" para uma "competência gigantesca". A ministra, que participou de almoço promovido pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, na capital paulista, defendeu um "choque de gestão" no Poder Judiciário e relatou as dificuldades que enfrentou para fiscalizar o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Para ela, uma boa gestão dos órgãos públicos é uma forma eficaz de prevenir a corrupção.

- Em administração, não é o tamanho que mete medo, nem é o tamanho que dá grandeza. O que dá grandeza é a humildade de dizer que precisa de ajuda. Sem dúvida, o grande papel da Corregedoria é a discussão disciplinar, que previne a corrupção no Poder Judiciário ensinando a ter um boa gestão. E isso não é privilégio de São Paulo, Distrito Federal ou da própria Corregedoria - afirmou a corregedora-geral, que acrescentou:

- Na Corregedoria, nós chegamos às entranhas no Poder Judiciário, começando a perceber os problemas existentes. Os problemas em razão de uma estrutura absolutamente arcaica, com uma competência gigantesca.

A corregedora-geral avaliou que foi ousada ao decidir fiscalizar o Tribunal de Justiça de São Paulo.

- Eu fui ousada no momento em que eu disse: "Vou entrar em São Paulo." Se não for por bem, vai ser por mal. Foi entrar em São Paulo que causou todo esse rebuliço.

Ela lembrou que, antes de São Paulo, havia feito investigações semelhantes em outros lugares, como em tribunais do Nordeste, e não teve os problemas que enfrentou em São Paulo.

O CNJ iniciou em fevereiro esforço concentrado para solucionar o impasse em torno do pagamento de R$20 bilhões em precatórios devidos pelo estado de São Paulo e por municípios de São Paulo. Nesta semana, a corregedora-geral divulgou o resultado do levantamento, que mostrou problemas na ordem cronológica para pagamento aos credores. O relatório apontou ainda que não existem irregularidades de ordem disciplinar em torno das execuções judiciais.

O governador Geraldo Alckmin afirmou no mês passado que o governo paulista quitará antes de 2025 o montante atual em precatórios devido pelo estado.