Título: Dilma: não há crise nenhuma com Congresso
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 25/03/2012, O País, p. 10

Em entrevista à Veja, presidente diz que não gosta da política do "toma lá, dá cá" e não deixará que isso ocorra

SÃO PAULO. Depois de passar por um mês de derrotas no Congresso, que incluíram a revolta do PMDB, demonstrada com a rejeição de um aliado para a direção da Agência Nacional de Transportes Terrestres e o adiamento da votação da Lei Geral da Copa, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo não passa por uma crise. Em entrevista à revista Veja desta semana, ela afirmou que as tensões com o congresso são normais.

- Não há crise nenhuma. Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando você perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O parlamento não pode ser visto asim. Em alguma circunstância, vai sempre emergir posição do consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo. Isso faz parte do processo - afirmou a presidente, que ainda citou como exemplo, a maior derrota do governo Lula no Congresso.

- No governo passado perdemos a votação da CPMF e o céu não caiu sobre a nossa cabeça - disse.

Ainda sobre as derrotas no Congresso, Dilma disse que a troca de líderes não teve a ver com a tensão entre o governo e a base aliada. "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá. Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo. Mas isso nada tem a ver com a troca dos líderes. Eles não saíram por essa razão", disse, lembrando que a tensão existente no momento é natural em ano de eleições municipais.

Dilma também rebateu o discurso do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que afirmou ter perdido o cargo quando perdeu sustentação no Congresso. Segundo ela, as crises institucionais no Brasil não ocorreram por questões pequenas, mas sim por perda de legitimidade do governante.

De acordo com a presidente, a demissão em série de ministros em seu primeiro ano de governo serviu para mostrar que o governo não dará "espaço para a fraqueza dos indivíduos". "Nenhuma pressão que é chamada para o governo pode achar que haverá algum tipo de complacência. - Temos de ser o mais avesso possível aos malfeitos. Não vou transigir", disse, lembrando que nem todos os ministros que deixaram o governo saíram por envolvimento com irregularidade:

- Alguns pediram para sair para evitar a superexposição ou para se defender das acusações que tiveram.

A presidente criticou o tratamento do desligamento de ministros como uma faxina ética. "Parece preconceituoso. Se o presidente fosse um homem vocês falariam em faxina?" Dilma disse que quer ser lembrada pela profissionalização do governo. "Não dá para consertar a máquina administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso. Nem na iniciativa privada isso é possível. No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte, que é dotar o estado de processos transparentes em que as melhores práticas sejam identificadas e adotadas mais amplamente. Esse será meu legado", afirmou.

Segundo Dilma, suceder um político popular como Lula foi muito fácil, por causa da experiência que teve como ministra da Casa Civil.