Título: Incra trata morte de sem-terra como execução
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 26/03/2012, O País, p. 9

Casal levava R$1.600 para comprar alimentos, mas dinheiro não foi roubado; neto de cinco anos escapou

BRASÍLIA. O assassinato de dois líderes sem-terra em Miraporanga, no triângulo mineiro, está sendo tratado pelo Incra como um caso de execução profissional. O casal Clestina Leonor Sales Nunes e Milton Santos Nunes da Silva foi morto com tiros na cabeça na manhã do último sábado quando ia fazer compras. Além deles, o motorista que os conduzia, Valdir Dias Pereira, também foi assassinado a tiros. Dentro do carro havia ainda um menino de cinco anos, mas, segundo relato do superintendente do Incra em Minas Gerais, Carlos Alberto Calazans, ele escapou da morte se escondendo no interior do veículo. O Incra pedirá a ajuda da Polícia Federal nas investigações.

- Vamos acompanhar o trabalho da Polícia Civil e da Polícia Militar. Temos que trabalhar com todas as hipóteses, mas tudo leva a crer que foi uma execução profissional. Vamos pedir o apoio da Polícia Federal nas investigações - afirmou Calazans, lamentando as mortes.

Casal liderava acampamento em fazenda com 80 famílias

O menino sobrevivente, neto do casal, saiu do carro depois que estavam todos mortos e percorreu cinco quilômetros a pé, na beira da estrada, até conseguir interceptar um caminhoneiro que trafegava no local. Ele contou que seus avós estavam mortos ali perto e pediu ajuda, mas o motorista não acreditou e seguiu viagem. Adiante viu o carro abandonado com três corpos dentro e voltou para socorrer o garoto e chamar a polícia.

Clestina e Milton Santos, líderes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), comandavam um acampamento com cerca de 80 famílias que invadiram a fazenda São José dos Cravos, na região de Miraporanga.

Eles haviam saído do acampamento para comprar alimentos para as famílias instaladas na fazenda e foram parados pelos assassinos quando atravessavam uma ponte. Embora o Incra não descarte nenhuma hipótese para os assassinatos, acredita ser um crime encomendado, já que o casal portava um total de R$1.600, dinheiro que não foi roubado durante a ação.

O superintendente do Incra acompanhou, a pedido do presidente do instituto, Celso Lisboa de Lacerda, o enterro de Clestina e Milton em Cachoeira Dourada (GO). Ele classificou o crime como uma "tragédia" e disse que estão todos chocados.

- É uma tragédia para nós do governo. Isso nunca tinha acontecido no triângulo mineiro, onde há um histórico de luta. Estamos todos muito abalados - disse Calazans.