Título: Vitória apertada
Autor: Uribe, Gustavo
Fonte: O Globo, 26/03/2012, O País, p. 3

Serra foi eleito candidato tucano à prefeitura de SP com 52% dos votos, frustrando aliados

APÓS SER anunciado vencedor, Serra destacou a união do partido, mas o resultado muito aquém dos 80% dos votos estimados pelos aliados revelou uma divisão interna

Gustavo Uribe Sérgio Roxo

Com uma votação que frustrou os seus aliados, o ex-governador José Serra venceu ontem a prévia do PSDB e será candidato à prefeitura de São Paulo. O tucano obteve 52,1% dos votos, o que significa que quase metade dos militantes que participaram da eleição interna do partido não votou nele. Será a quarta vez que Serra disputa o cargo. Nas outras, venceu uma (2004) e perdeu duas (1988 e 1996). Há menos de dois anos, ele foi derrotado por Dilma Rousseff na eleição presidencial.

Antes de ser iniciada a contagem dos votos, um dos coordenadores da pré-campanha de Serra afirmou que, se ele ficasse com menos de 65% dos votos, o resultado seria considerado "decepcionante". Ao longo da semana passada, aliados chegaram a projetar que o ex-governado seria o escolhido de até 80% dos tucanos. O objetivo era ter uma votação esmagadora para demonstrar que o o partido estava unido em torno de Serra.

O comparecimento à prévia seguiu a expectativa da direção da legenda. Votaram 6.229 dos cerca de 20 mil filiados ao PSDB na cidade. O secretário estadual de Energia, José Aníbal, ficou em segundo, com 31,2% dos votos. O deputado federal Ricardo Tripoli foi o terceiro, com 16,7 %.

A apuração dos votos ocorreu em clima tenso. A votação foi eletrônica, por meio de tablet. Mas em algumas regiões, por problemas técnicos, foi necessário recorrer às cédulas. Houve bate-boca entre fiscais dos pré-candidatos por causa de uma urna que chegou sem lacre. Partidários de Aníbal e de Trípoli defenderam a anulação desses votos, o que acabou ocorrendo.

Com o resultado apertado, os tucanos usaram seus discursos após a divulgação dos resultados para pregar a união.

- A partir de hoje (ontem), uma só voz, um só trabalho. Saímos dessa prévia unidos - afirmou Serra, ao falar aos militantes tucanos, na Câmara Municipal de São Paulo, logo depois de ser anunciado como vencedor da eleição interna.

Os dois derrotados seguiram na mesma linha.

- O partido saiu muito fortalecido da prévia, inclusive, e principalmente, na sua unidade - disse Aníbal.

- Eu dizia desde o primeiro debate: aquele que vencesse, teria o apoio dos demais. Promessa feita, promessa cumprida. Serra, prefeito de São Paulo - declarou Tripoli.

Depois de discursar, Serra saiu sem dar entrevista. O presidente nacional do partido, Sérgio Guerra (PE), também participou do evento. Aguardado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu.

Convite de Serra a Tripoli

Numa tentativa de reverter o quadro de divisão no partido, Serra deve convidar Tripoli para integrar a coordenação de campanha. Com Aníbal, que teve uma postura mais agressiva durante a disputa, a situação é mais complicada. Ontem, em seu discurso, Aníbal voltou a criticar a gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), aliado de Serra, dizendo que a administração municipal precisa ser "mais presente" para o cidadão.

Serra só anunciou a sua intenção de disputar a prévia no dia 27 de fevereiro, quando faltavam seis dias para a realização da votação. Por causa da sua decisão, a eleição interna foi remarcada. Aníbal e Tripoli eram contrários ao adiamento, mas foram derrotados na Executiva Municipal, o que contribuiu, na ocasião, para acirrar os ânimos entre os pré-candidatos.

A avaliação de algumas lideranças tucanas é que, se não houvesse adiamento, Serra correria o risco de perder a prévia. O ex-governador ainda teve o apoio de dois pré-candidatos, os secretários estaduais Andrea Matarazzo e Bruno Covas, que desistiram tão logo Serra anunciou a entrada na disputa.

O presidente municipal do PSDB, Júlio Semeghini, negou que o partido vá para a eleição paulistana desunido e negou que o resultado da votação tenha frustrado o partido:

- Para mim, uma expectativa boa era ter um pouco mais da metade dos votos. O mais importante é que o partido sai 100% unido.

No discurso de ontem, Serra já fez críticas ao uso de realizações do governo federal pelo pré-candidato do PT, Fernando Haddad, sem citá-los nominalmente. O petista nunca disputou uma eleição.

- Os temas debatidos (na eleição) deverão ser temas locais. Muitos candidatos tentarão fugir disso, por não conhecerem ou não terem propostas concretas para a cidade ou não terem folha de serviço - disse Serra, fazendo mais ataques velados ao PT:

- Eles se especializam na gritaria, na conversa mole, na cooptação, no uso da máquina pública para servir aos interesses privados, de um partido, de uma aliança ou de pessoas.

Ainda na linha de ataque ao adversário, disse que, ao assumir a prefeitura de São Paulo em 2004, como sucessor da petista Marta Suplicy, encontrou uma "cidade falida". E procurou evitar o clima de já ganhou ao dizer que "campanha não se resolve com pesquisa". Levantamento do Datafolha do início do mês mostra o tucano com 30% das intenções de votos, contra 3% de Haddad.