Título: Transocean tem versão diferente
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 23/03/2012, Economia, p. 25

Em depoimento à PF, operador do poço e presidente da Chevron divergem sobre pressão

Funcionários de Chevron e Transocean dão versões divergentes para as tentativas de controle do vazamento de óleo no campo de Frade, na Bacia de Campos, segundo depoimentos prestados à Polícia Federal a que o GLOBO teve acesso. A principal discordância é em que momento a sonda injetou fluido de perfuração com pressão superior ao suportável pela parede do poço. O vazamento ocorreu em novembro, quando houve o derramamento equivalente a 2,4 mil barris de petróleo. A Chevron é a operadora do campo, e a Transocean, contratada para operar a sonda.

No inquérito, os funcionários - denunciados anteontem pelo Ministério Público Federal de Campos por crime ambiental, dano ao patrimônio público e falsidade ideológica - dizem que foram surpreendidos pela pressão encontrada no reservatório. Já o procurador da república Eduardo Oliveira sustenta que todos os envolvidos poderiam ter evitado o vazamento e, portanto, foram omissos, apesar de cientes do risco da operação.

As investigações policiais apontam que houve erro no uso de pressão para bombear o fluido de perfuração, vulgarmente chamado de lama, o que causou uma ruptura na rocha do poço por onde aflorou óleo no mar. O vazamento começou no dia 7 de novembro, quando ocorreu o kick, e o óleo começa a vazar pela parede da rocha. Nesse momento, a pressão estava em 9,5 libras por galão e não foi suficiente para impedir o kick, por isso, teria de ser aumentada para "empurrar" o óleo para baixo. O sondador Brian Mara, da Transocean, trabalhava na sonda nessa hora e era um dos que tentava controlar a situação.

Buck: "Mãe natureza é imprevisível"

Mara disse, em depoimento no dia 1 de dezembro, que, após o fechamento da boca do poço, retornou no turno seguinte, horas depois. Recebeu instruções para elevar a pressão de bombeamento de lama para 13,9 libras por galão, porque o óleo ainda não estava contido. Disse que sabia que a parede do poço não aguentava pressão superior a 10,57, mas alegou "cumprir ordens". Esse ponto de rompimento estava previsto em teste geológico chamado Leak Off Test (LOT).

Já o presidente da Chevron no Brasil, George Buck, deu versão diferente para o início do bombeamento com pressão acima do tolerado pelo poço. Ao ser interrogado pela PF no dia 2 de dezembro, disse que a pressão só foi elevada a 13,9 libras por galão após seis dias do início do vazamento. Outros funcionários da Chevron corroboram a versão.

Buck se disse surpreso por ter subestimado a pressão do reservatório e superestimado a força da rocha. Chegou a dizer que a "mãe natureza é muitas vezes imprevisível". Chevron e Transocean não quiseram se manifestar.