Título: Senadores agora querem investigar Demóstenes
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 27/03/2012, O País, p. 9

Colegas governistas e de oposição que apoiaram senador do DEM cobram explicação da relação com contraventor Cachoeira

BRASÍLIA. Exatamente 20 dias depois da sessão do Senado de 6 de março, quando se juntaram para defender o líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), senadores governistas e de oposição voltaram ontem ao plenário para cobrar explicações do colega. O clima era de desconforto e irritação, com cobranças para que o senador goiano explique novas denúncias sobre sua suposta sociedade com o contraventor Carlos Cachoeira. Demóstenes não apareceu ontem no Senado nem quis falar com O GLOBO.

Com discursos duros, os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Ana Amélia Lemos (PP-RS), que sempre acompanhavam Demóstenes nas cobranças em relação às denúncias contra o governo, enfatizaram que a situação hoje é muito diferente do dia em que ele admitiu na tribuna uma relação de amizade, e que apenas fora presenteado por Cachoeira com uma geladeira e um fogão em seu casamento.

Taques disse que, se as justificativas não forem dadas agora, o Senado perderá toda a moral para cobrar explicações de quem quer que seja daqui para a frente. Além das cobranças, amanhã Taques e um grupo de senadores, incluindo o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), pedirão ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que envie ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de abertura de inquérito para investigar Demóstenes. O senador Vital do Rego (PMDB-PB), corregedor do Senado, vai reforçar o pedido de documentos de todas as investigações feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal .

- Não podemos tapar o sol com a peneira. O caso é grave e merece esclarecimentos. Não é razoável que um senador da República troque esse número de telefonemas com um cidadão voltado para a prática do crime, que tenha um celular habilitado em Miami para conversas privadas com um cidadão do crime - disse Taques.

Na mesma linha, o senador Jorge Viana (PT-AC) mostrou constrangimento ao admitir que foi um dos muitos que prestaram solidariedade a Demóstenes:

- Queria aqui, da tribuna, sem prejulgamento, pedir que volte a tribuna em respeito à opinião pública e a esse plenário para se explicar. Não estou arrependido. Prefiro sofrer uma injustiça do que provocar uma injustiça. Que ele venha aqui para que possamos debater esse problema.

Pinheiro questiona Gurgel sobre o caso de Demóstenes, que está na procuradoria desde 2009, sem que o STF tenha sido provocado. Na semana passada, Pinheiro enviou representação solicitando o envio de todas as investigações:

- Só mediante as informações vamos decidir se acionamos ou o não o Conselho de Ética.

Já o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), disse ser desnecessário que o caso de Demóstenes seja levado à Corregedoria ou ao Conselho de Ética do Senado, porque a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República investigam o caso. E admitiu que as novas denúncias representam um duro baque para a oposição:

- Vamos esperar a conclusão das investigações da Polícia Federal para o PSDB se posicionar. A investigação cala uma das vozes mais fortes da oposição.

Ontem, o Tribunal Regional Federal, em Brasília, negou habeas corpus a Cachoeira. Ele foi preso pela PF no último dia 29, em Goiânia.