Título: Da Rufolo para cargos-chaves na saúde pública
Autor: Rocha, Carla
Fonte: O Globo, 01/04/2012, Rio, p. 18

Ex-funcionários terceirizados de empresa investigada viraram gestores nos hospitais do Andaraí, Cardoso Fontes e Into

Com negócios na área de mão de obra para limpeza e jardinagem, a Rufolo tem se revelado uma fonte de executivos que ocupam altos escalões nos hospitais federais no Rio. Pelo menos três unidades da União - dois hospitais e um instituto - foram ou são administrados por ex-funcionários terceirizados da firma. Além do Hospital do Andaraí - conforme revelado pelo GLOBO na semana passada -, o Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, também tem um coordenador administrativo que veio da Rufolo, e o prestigiado Instituto de Traumato-Ortopedia (Into) foi gerido, de 2007 até o ano passado, por outro ex-funcionário da empresa.

A presença de funcionários antes terceirizados pela Rufolo Empresa de Serviços Técnicos e Construções Ltda como gestores, com cargos comissionados, nas três unidades é vista com naturalidade pelo Ministério da Saúde. O fato é atribuído à falta de concursos públicos, que dificultaria a contratação de novos funcionários. O ministério ressalta que não há processo administrativo, denúncia ou indício de conduta irregular atribuídos aos três comissionados lotados na rede.

Em quatro anos, ministério pagou R$120,9 milhões

Investigada por envolvimento num esquema de pagamento de propina, com base em reportagem feita pelo "Fantástico", da TV Globo, no Instituto Martagão Gesteira da UFRJ, a Rufolo recebeu, em quatro anos, vultosos repasses do Ministério da Saúde - a maior parte para pagar contratos de mão de obra. A empresa fornece, basicamente, pessoal de apoio administrativo, porteiros, ascensoristas e recepcionistas.

Em 2008, o Ministério da Saúde liberou R$33,6 milhões para pagar o contrato de profissionais feito através da Rufolo. Em 2009, foram R$36,6 milhões, também para locação de mão de obra. Em 2010, R$34,6 milhões e, no ano passado, R$16,1 milhões. Até hoje - os dados deste ano ainda não estão disponíveis no site Transparência do governo federal -, já foram pagos R$120,9 milhões à Rufolo só pelo Ministério da Saúde para esta finalidade, fora contratos de outra natureza.

No Hospital do Andaraí, um ex-analista administrativo contratado para trabalhar na unidade através da Rufolo - que também já havia passado pelo Departamento Geral Hospitalar (DGH) do Rio de Janeiro, no próprio escritório do Ministério da Saúde no Rio - virou coordenador administrativo da unidade. De abril a setembro de 2011, Berilo Jorge Lopes Silva exerceu a função, recebendo um DAS, cargo comissionado. Ele foi exonerado, de acordo com o ministério, "por não ter tido o desempenho profissional esperado". Foi o primeiro caso deste tipo encontrado pela reportagem. Mas logo se descobriu que o substituto de Berilo no cargo também é um ex-terceirizado da Rufolo.

Da União para o Fundo Estadual de Saúde

Hoje, quem cuida da gestão administrativa do Hospital do Andaraí, desde setembro do ano passado, é Paulo Eduardo de Oliveira Júnior, ex-Rufolo. Mais uma vez, o Ministério observa que Paulo Eduardo não tem qualquer mácula em sua conduta profissional. Ele começou a trabalhar na rede pública de saúde como terceirizado em 2006, tendo prestado serviços no DGH e também aos hospitais federais de Ipanema, Lagoa e Andaraí até dezembro de 2010.

Outro caso semelhante ocorreu no Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá. Ao ser perguntado pelo GLOBO sobre o motivo da escolha de outro ex-funcionário da Rufolo para a função, o Ministério da Saúde informou que Edward Omena é especialista em gestão hospitalar. Desde fevereiro deste ano, ele é coordenador administrativo do hospital. Antes, ele havia sido funcionário terceirizado da Rufolo, no Hospital do Andaraí, entre 2005 e 2010.

Um outro nome confundiu o próprio Ministério da Saúde, que chegou a negar que Eduardo da Silva Câmara, ex-coordenador administrativo do Instituto de Traumato-Ortopedia, tivesse sido da Rufolo. Mas ele foi. O vínculo com a empresa foi curto, de junho a dezembro de 2006. No ano seguinte, ele já foi convidado para ser coordenador administrativo do Into, uma das mais importantes unidades da União no Rio, ficando responsável pelas divisões financeira, de suprimento, de infraestrutura, de tecnologia da informação e de planejamento.

Formado em administração e com anos de experiência no mercado financeiro, Eduardo saiu do Into. Mas se mantém na área de saúde. Do estado. Hoje, ele é diretor administrativo e financeiro do Fundo Estadual de Saúde. O fundo, através de uma nota oficial, esclareceu que ele foi escolhido para o cargo, em setembro do ano passado, justamente pela ampla experiência no ramo.

Não há informações sobre atos irregulares praticados pelos três no exercício das funções. Procurados, eles não quiseram falar com O GLOBO.