Título: Desemprego na zona do euro é o maior desde a criação da moeda
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 03/04/2012, Economia, p. 20

Na Espanha, índice é de 23,6%. Metade dos jovens está desocupada

RIO e LONDRES. O número de desempregados nos 17 países da zona do euro alcançou em fevereiro seu maior patamar desde a adoção da moeda única, em 1999. Segundo o Eurostat, o instituto oficial de estatísticas econômicas da União Europeia (UE), o desemprego na zona do euro subiu de 10,7% em janeiro para 10,8% em fevereiro. O número de desempregados totalizou 17,1 milhões, ante 17 milhões há um ano. Dos 17 países que adotam o euro como moeda, sete estão com suas taxas de desemprego superiores a dois dígitos.

O desemprego cresceu pelo oitavo mês seguido, reforçando os sinais de nova recessão.

num momento em que vários países estão adotando medidas de austeridade para corrigir seus déficits públicos e o nível de endividamento.

A Espanha, que lançou na sexta- feira um plano de austeridade, aprofundando o arrocho, apresentou uma taxa de desemprego de 23,6%, a maior do bloco. Entre jovens com menos de 25 anos aptos a trabalhar, o percentual é de 50,5%, pela primeira vez na História. Já o país com a menor taxa de pessoas sem trabalho é a Áustria, com 4,2%. Grécia, Portugal e Irlanda — três países resgatados pela zona do euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) — tiveram taxas de 21%, 15% e 14,7%, respectivamente.

— O crescimento do desemprego aumentou as pressões no gasto familiar, sobretudo nos gastos secundários — afirmou a economista Jennifer McKeown, da Capital Economics, acrescentando que a situação deve piorar, inclusive na Alemanha, onde o desemprego foi de 5,7%.

Indústria reforça sinais de recessão na zona do euro

O Índice de Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês) do Markit recuou de 49 pontos em fevereiro para 47,7 pontos em março. O recuo mostra que a crise dos países periféricos do bloco afetou Alemanha e França.

— As indústrias da zona do euro tiveram um mês de março miserável.

Fortes contrações na periferia estão agora sendo acompanhadas por sinais de renovada fraqueza em países como Alemanha e França — disse Chris Williamson, do Markit.

Na Alemanha, o PMI caiu de 50,2 pontos para 48,4 pontos, entre fevereiro e março. Mesmo assim, ficou acima das estimativas dos analistas, de 48,1.

Nos EUA, foi divulgado ontem o índice ISM industrial, calculado pelo Instituto de Gestão de Suprimentos, que registrou 53,4 pontos em março, contra 52,4 em fevereiro.

Leituras acima de 50 apontam avanço da atividade e o dado de ontem superou ligeiramente as estimativas.

Os dados positivos sobre a indústria americana levaram otimismo a mercados de todo o mundo ontem e o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), subiu 1,09%, a 65.216 pontos. Na contramão do otimismo internacional, o dólar comercial subiu 0,33%, a R$ 1,832, maior cotação desde 9 de janeiro.

O dado americano, divulgado no fim da manhã, deu rumo de alta às bolsas, que abriram os pregões sem tendência definida.

O Ibovespa chegou a cair 0,48% no início dos negócios.

— O índice ISM acima das expectativas não chega a mudar o cenário deste início de ano, com uma recuperação da economia americana no radar, mas serve de motivo para correções nas cotações após investidores embolsarem lucros — disse Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management, referindo-se às quedas na Bolsa na semana passada.

O movimento foi global, liderado pelos mercados americanos.

Em Nova York, avançaram os índices Dow Jones (0,4%), S&P 500 (0,75%) e Nasdaq (0,91%).

Na Europa, apesar de dados fracos sobre a atividade econômica na zona do euro, as bolsas seguiram o otimismo dos EUA, com altas em Londres (1,85%), Paris (1,14%) e Frankfurt (1,58%).

Na Bovespa, os destaques de alta foram os setores de mineração e siderurgia, beneficiados pela alta nas cotações de matérias- primas, impulsionados também por dados da indústria na China. Vale PNA (preferencial, sem voto) subiu 2,63%, a R$ 42,55, e Gerdau PN teve alta de 3,38%, a R$ 18,05. Na contramão, Petrobras PN caiu 0,51%, a R$ 23,23. Para Luiz Otávio Broad, analista da corretora Ágora, pesaram sobre as ações da empresa receios relacionados à dificuldade de repasse de custos maiores para o preço dos combustíveis nas refinarias.