Título: Em busca da competitividade
Autor: Valente, Gabriela; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 04/04/2012, Economia, p. 20
Foi anunciado mais um pacote de incentivos para incrementar a competitividade da indústria. Sem ser exaustivo, o pacote inclui regimes especiais para determinados setores, desonerações da folha de pagamento, fomento à exportação, uso de poder de compra do governo para estímulo à produção doméstica e um novo aumento do funding do BNDES. A maior parte dessas medidas aponta na direção correta, mas a grande questão é: elas atacam os grandes gargalos de competitividade da indústria?
Para responder a esta pergunta, mostra-se útil analisar o desempenho brasileiro no Global Competitive Index (GCI), índice de competitividade calculado anualmente pelo Banco Mundial. Trata-se de uma de uma média ponderada de três componentes: requisitos básicos para competitividade (saúde e educação primária, instituições, infraestrutura e ambiente macroeconômico); promotores da eficiência (eficiência no mercado de trabalho e financeiro, educação superior e treinamento de mão de obra, entre outros); e fatores associados à inovação e sofisticação dos negócios. Para os países pobres os fatores mais importantes para garantir competitividade são os requisitos básicos. Para os de renda intermediária (como o Brasil), os fatores associados à eficiência são mais relevantes. Por fim, para os desenvolvidos os itens ligados inovação e sofisticação aumentam de importância.
Na última edição do GCI o Brasil ficou em 53 lugar (entre 142 países), atrás da China e de diversos países da América Latina. Mas o que mais chama atenção é que, apesar de estar relativamente bem colocado em quesitos como tamanho do mercado interno (10º), sofisticação do ambiente de negócios (31), eficiência do mercado financeiro (40), inovação (44) e adoção de tecnologia (47), o desempenho do Brasil nos requisitos básicos é desalentador. Alguns exemplos são qualidade da infraestrutura (104), qualidade do sistema educacional (115) e eficiência do mercado de trabalho (121). Somos um país de renda intermediária com requisitos básicos de competitividade de país pobre.
Embora haja espaço para medidas setoriais de estímulo à competitividade como as anunciadas, os grandes gargalos que afetam a indústria brasileira só serão removidos com medidas horizontais, que atinjam todos os setores de forma abrangente. Nenhum país conseguiu se tornar desenvolvido sem garantir provisão satisfatória de infraestrutura, mão de obra qualificada e ambiente macroeconômico adequado.
Mauricio Canêdo Pinheiro é professor e pesquisador do Ibre/FGV