Título: No Conselho de Ética, PMDB lava as mãos
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/04/2012, O País, p. 9

Como nenhum representante do partido quer presidir o órgão, pedido de abertura de processo contra Demóstenes Torres não caminha

BRASÍLIA. Sem uma definição da cúpula do PMDB, que tem a prerrogativa de indicar o presidente do Conselho de Ética, nada acontecerá, antes do dia 10, com a representação do PSOL pedindo abertura de processo contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Como nenhum dos quatro representantes do PMDB no Conselho quer assumir a presidência do órgão, ontem quatro senadores de outros partidos se ofereceram para comandar o processo, mas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que decidirá sobre o assunto, nem apareceu na Casa.

Ironicamente se ofereceram para presidir o Conselho e acelerar o processo contra Demóstenes, três ex-companheiros que formavam com ele o chamado "Os quatro mosqueteiros": Pedro Taques (PDT-MT), Ana Amélia Lemos (PP-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

PMDB diz que vai consultar bancada e Sarney até dia 10

Também se candidatou o senador petista Wellington Dias (PI), mas o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), disse que tem que consultar a bancada e Sarney antes de tomar a decisão. Até lá, Demóstenes ganha tempo para decidir se renuncia ou enfrenta o processo.

- Tivemos uma reunião do bloco hoje e decidimos pedir a completa apuração de todos os crimes desse escândalo, não só a quebra de decoro do senador Demóstenes. Uma vez que o vice-presidente Jayme Campos se considera impedido, estamos oferecendo ao PMDB o nome do senador Wellington Dias, que já é membro do conselho, para presidir o órgão - comunicou o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), em discurso no plenário.

- A vaga é preferencialmente do PMDB, mas vamos consultar a bancada e o presidente Sarney até dia 10, quando já está convocada a eleição do novo presidente. A partir daí, é dar o encaminhamento regimental - respondeu Renan.

Mas no PMDB, entre os seus quatro integrantes do Conselho de Ética, nenhum deles mostrou disposição de tocar o processo contra o parlamentar goiano. O senador Lobão Filho(PMDB-MA) disse que não tem vocação para julgar colegas.

- Essa missão de julgar os pares é muito espinhosa. Me deixa fora dessa! Me botaram lá no conselho contra a minha vontade - reagiu Lobão.

Desde segunda-feira, Randolfe, Taques e Ana Amélia tentam entrar em contato com José Sarney e com o presidente em exercício do conselho, Jayme Campos, sem sucesso. Tentaram e não conseguiram antecipar a escolha do novo presidente, que ficará mesmo para depois da Semana Santa.

- O presidente Sarney não está em Brasília, e o senador Jayme Campos está numa fazenda no interior do Mato Grosso, incomunicável. Vamos fazer uma questão de ordem no plenário hoje e ver o que a gente pode ir fazendo até aparecer alguém para responder pelo conselho - disse Randolfe Rodrigues.

O trio que se oferece para presidir o Conselho de Ética não integra o colegiado. O PDT mostrou disposição de indicar Pedro Taques como suplente. Randolfe ficaria impedido, porque assina a petição contra Demóstenes Torres. Não há decisão do PP sobre Ana Amélia.

Atualmente, 11 senadores integram o Conselho de Ética do Senado, que está com duas vagas em aberto. Além de Lobão Filho, Renan Calheiros, Wellington Dias e Jayme Campos, fazem parte do colegiado os senadores João Alberto (licenciado, do PMDB-MA), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE), José Pimentel (PT-CE), Mário Couto (PSDB-PA), Cyro Miranda (PSDB-GO), Gim Argello (PTB-DF).