Título: Vendas mais fracas no comércio fazem inflação cair à metade
Autor: Rosa,Bruno
Fonte: O Globo, 06/04/2012, Economia, p. 20
Com IPCA em 0,21%, analistas já preveem Selic abaixo de 9% este ano
Bruno Rosa
RIO e BRASÍLIA. Mais alívio nos preços. Em março, a inflação oficial - medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA - desacelerou para 0,21%, metade do que se viu em fevereiro (0,45%). O resultado veio bem abaixo do esperado por analistas, que projetavam taxa de 0,40%. Com a terceira desaceleração consecutiva, os preços subiram 1,22% neste ano, informou o IBGE. No últimos 12 meses, a inflação perde a força, acumulando taxa de 5,24%. Resultado que já faz analistas acreditarem que os juros encerrem 2012 abaixo de 9% ao ano.
O índice de março foi puxado pela redução de preços do vestuário, por causa das liquidações. No mês passado, o segmento apontou deflação de 0,61%. Tradicionalmente, há preços subindo em março, em resposta à entrada das novas coleções. O que se notou, contudo, segundo especialistas, foi que muitos lojistas entraram o ano com estoques elevados. Além disso, parte da renda das famílias está comprometida com o pagamento de crediário de bens duráveis, como carros, e financiamento imobiliário. A desaceleração com educação, contudo, também influenciou a inflação, ao apresentar forte de desaceleração (de 5,62%, em fevereiro para 0,54%, em março).
- O vestuário teve deflação. As lojas continuarão com as liquidações. A entrada forte de importados, da China, principalmente, teve seu peso, pois as coleções novas podem estar com preços menores - disse Irene Machado, técnica do IBGE.
Perguntado sobre o resultado do IPCA, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, demonstrou satisfação com o resultado:
- O resultado é muito bom, mostra que a inflação está sob controle e isso abre a possibilidade de um crescimento maior neste ano - disse o ministro acrescentando que a desaceleração do IPCA abre possibilidade de se oferecer um estímulo maior à economia e de queda dos juros no setor privado.
Mercado já projeta
inflação maior em abril
Rafaela Oliveira, sócia da Bali Sun, conta que, no primeiro trimestre, suas vendas recuaram 15% frente a igual período de 2011. Então, para se recuperar do fraco desempenho, foi preciso esticar as promoções.
- Prorrogamos as ofertas, com descontos de até 40%, por tempo indeterminado. Vendo produtos da Índia e do Brasil, mas perco quando os artigos chineses aparecem em outras lojas.
Apesar do freio nos preços até março, o mercado já projeta inflação maior a partir deste mês. Fábio Romão, economista da LCA, diz que o reajuste de itens farmacêuticos, das taxas de água e esgoto, além do maior imposto em cigarros e bebidas farão o IPCA subir para 0,54% em abril.
- Há expectativa de aumento de etanol, como forma de recompor margens. Por isso, o IPCA menor de março vai compensar o aumento de preços em abril. A expectativa para o ano segue a mesma, de 4,8%. Minha hipótese é a de que o recuo dos preços está ligado às vendas fracas, como no caso dos eletrodomésticos (preços caíram 1,5%).
Thiado Curado, da Tendências, destacou que a alta nos alimentos no atacado não chegou ao varejo. Por isso, o grupo alimentos e bebidas - que fechou em 0,25% em março, sob influência do preços de pescados (4,15%) por causa da Páscoa - vai subir mais a partir de abril. Em março, a inflação só não cedeu mais porque houve avanço no valor das passagens aéreas (1,34%) e do etanol (1,88%).
Mesmo com a pressão já esperada, Luis Otavio Leal, economista do ABC Brasil, ajustou sua previsão de IPCA para 2012, que caiu de 5,3% para 5,15%. Mudança que considera o comportamento dos preços de serviços, que saíram de 1,25% para 0,52%.
- O resultado foi muito bom para o governo, reforçando sua projeção de desaceleração da inflação no início do ano e abrindo bom espaço para o resultado de 2012. Se o BC estiver olhando para 2012, aumentou a probabilidade de reduzir mais os juros.
Selic pode cair abaixo dos 9% fixados pelo BC
Segundo economistas, o resultado de março pode influenciar o governo a reduzir os juros para baixo de 9% ao ano, uma espécie de piso admitido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no último encontro. Na próxima reunião do comitê , em meados de abril, o mercado dá como certo o corte de 0,75 ponto percentual na Selic. Mas Eduardo Velho, da Prosper Corretora, acredita que há espaço para um recuo ainda maior. Ontem, os contratos de juros futuros, com vencimento para janeiro de 2013, encerraram em queda de 0,23 ponto percentual, para 8,73% ao ano.
- Nossa previsão de 5,1% para o IPCA de 2012 tende a ser revista para baixo. No segundo semestre, a inflação pode voltar a ceder, por causa da safra. E o pacote de estímulo do governo não vai surtir grandes efeitos na economia. Há espaço para os juros caíam para baixo de 9%, e o ciclo de redução da Selic ir até maio.
Para Joaquim Elói, diretor da Bahema, o BC não fixou limite para a Selic. E isso abre espaço para se reduzir a Selic mais.
- O Banco Central, diferentemente das gestões anteriores, está observando como anda a economia e, a partir daí, toma a sua decisão. Não se prende a uma taxa e, com isso, pode testar a economia.