Título: Contador de Cachoeira é 1 na mira da PF
Autor: Carvalho, Jailton
Fonte: O Globo, 13/04/2012, O País, p. 12

Contador de Cachoeira é 1 na mira da PF

Dos 35 integrantes da organização do bicheiro que tiveram prisão decretada, apenas Giovani Silva permanece foragido

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

BRASÍLIA. No momento em que o Conselho de Ética prepara o processo por quebra de decoro contra o senador Demóstenes Torres (sem-partido-GO), a Polícia Federal concentra esforços na caçada a Giovani Pereira da Silva, o contador da organização de Carlinhos Cachoeira. Dos 35 integrantes da quadrilha de Cachoeira que tiveram a prisão preventiva decretada, Giovani é o único que permanece foragido. A PF está distribuindo fotos do contador no Sistema de Procurados e Impedidos. Ou seja, ele é o número 1 da lista de procurados.

Para a PF a prisão de Giovani é importante porque o contador estaria movimentando dinheiro para pagar advogados de outros integrantes da organização. Ele também teria informações importantes sobre a movimentação financeira do grupo de Cachoeira, inclusive sobre os pagamentos a agentes públicos. A polícia prendeu 34 dos principais acusados nos dois primeiros dias da operação, entre final de fevereiro e o início de março. Mas não conseguiu localizar Giovani. A maioria já foi liberada. Cachoeira permanece preso e ontem o STJ negou pedido para liberá-lo.

A prisão dos homens de Cachoeira não foi fácil. A equipe do delegado Matheus Mela Rodrigues teve que montar uma operação de contrainformação para conter vazamentos dentro da própria PF e evitar fugas ou até mesmo o fracasso da Operação Monte Carlo. Num dos lances mais surpreendentes do caso, o coordenador da operação convidou policiais de Goiânia, entre eles o delegado Fernando Byron, para uma ação em Brasília. A investigação era importante e Byron deveria manter segredo.

Na manhã do dia seguinte, 29 de fevereiro, quando tomava café num hotel em Brasília, ao invés de receber um mandado de prisão para cumprir, o delegado ouviu a voz de prisão de um colega. Ocupante de uma posição estratégica na PF de Goiânia, Byron é acusado de vazar informações para Cachoeira, inclusive das próprias investigações. O sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, um dos chefes da espionagem de Cachoeira, também soube e até vazou parte da Operação Monte Carlo.

Ele teria sido informado da "grande operação" em Brasília por um agente da PF. O espião chegou até a alardear a movimentação dos policiais em Brasília um dia antes de ser preso como um dos integrantes do alto escalão da organização de Cachoeira. A PF teve dificuldades de manter o caso em segredo porque a organização do bicheiro contava com a colaboração de agentes infiltrados em postos-chaves. O bicheiro teria na folha de pagamento mais de 40 policiais militares, civis e federais.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou ontem que a PF investigue o vazamento de dados da Monte Carlo, que investiga a atuação de Carlinhos Cachoeira. O ministrou voltou a reafirmar que é " radicalmente" contra vazamentos.

Parlamentares da oposição criticaram o vazamento "seletivo" de diálogos grampeados:

- Não interessa se ele envolve o governo ou se são vinculados a partidos da oposição. No período em que o processo esteve exclusivamente na PF nunca se vazou nada - diz Cardozo, destacando que as investigações ocorrem há cerca de um ano e meio.

- Os que acreditaram que os vazamentos visavam a prejudicar membros da oposição seguramente agora vão ter que repensar melhor as críticas.

Segundo ele, a PF cumpriu "determinações judiciais".

- A PF cumpriu seu papel e colocou os fatos na mesa. Agora, daqui para frente, cabe ao Judiciário avaliar o que foi apurado. Da parte da Polícia Federal, não houve nenhum procedimento ilegal. As provas foram coletadas com autorização judicial. A PF cumpriu a lei - garantiu.