Título: Religiosos pressionam Supremo em protesto
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 12/04/2012, O País, p. 15

Manifestantes fazem procissão contra aborto de anencéfalos

André de Souza, Carolina Brígido e Gustavo Miranda

BRASÍLIA. Com orações e uma pequena procissão, manifestantes contrários ao aborto protestaram ontem em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Entre uma Ave Maria e um Pai Nosso, os presentes rechaçaram o argumento de que não há problemas em interromper a gravidez de um feto anencéfalo, mesmo que ele não tenha chances de sobreviver fora do útero. Os manifestantes levaram uma pequena estátua de Nossa Senhora de Fátima, com a qual deram voltas na Praça dos Três Poderes, numa pequena procissão.

Os manifestantes - poucas dezenas de pessoas - protestaram de forma pacífica. Entre os contrários à liberação da interrupção da gravidez estava o casal Marcelo e Joana Croxato. Eles têm uma filha de 2 anos e 3 meses chamada Vitória de Cristo, diagnosticada com acrania (ausência total ou parcial do crânio). O pai diz que é um caso de anencefalia, mas muitos médicos discordam, dizendo que ela não teria sobrevivido.

- Vitória é um caso de anencefalia raro, menos severo. Ela tem tido condição de viver, de interagir e se comunicar com as limitações dela - disse Marcelo.

Do lado oposto, estava Severina Maria Leôncio Ferreira, dona de casa pernambucana de 34 anos. Mesmo sendo católica e contrária ao aborto, ela pediu a Deus iluminação para que os ministros do STF liberem a interrupção da gravidez no caso de fetos anencéfalos.

Em 2004, amparada em liminar concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello, Severina decidiu interromper a gravidez após descobrir que o filho que estava esperando era anencéfalo. Mas, no dia em que isso ocorreria, a liminar foi cassada e Severina carregou o feto por mais 4 meses na barriga, quando finalmente fez o abortol.

- Sou contra o aborto. Mas, no caso do filho que eu tive com anencefalia, essa criança não tem vida. E para que uma mãe esperar nove meses, sofrendo, que aquela criança não vai sobreviver? É muita dor para uma mãe passar nove meses com uma criança sabendo que aquela criança não vai ter vida.

Moradora de Chã Grande, a 85 km de Recife, Severina foi ao STF acompanhar o julgamento. Ela tem um filho de 11 anos e lembra que a segunda gravidez, ao esperar uma criança que não sobreviveria, foi a época mais difícil de sua vida.

- Eu sou católica. Eu espero que Deus ilumine essas pessoas que estão aqui julgando. Que corra tudo bem, que seja aprovado, que outras mães não passem o que eu passei - afirmou.

Na Praça dos Três Poderes, religiosos se organizaram desde terça-feira, quando fizeram uma vigília em frente à sede do Supremo. A cantora Elba Ramalho participou do ato.