Título: Demóstenes ajudava Cachoeira a fazer nomeações no governo Perillo
Autor: Vasconcellos, Fabio: Lomba, Luis
Fonte: O Globo, 18/04/2012, O País, p. 4
RIO, CURITIBA e BRASÍLIA. Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, durante as investigações da Operação Monte Carlo, mostram que o bicheiro Carlinhos Cachoeira supostamente contava com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) como interlocutor junto ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSBD), para indicar pessoas de sua confiança para a Secretaria de Segurança do estado. Nas gravações, Cachoeira também orienta seus interlocutores a como falar com Marconi.
No dia 5 de janeiro de 2011, Cachoeira estava em Miami, de onde conversa por telefone com Lenine Araújo de Souza, apontado como um dos seus contadores. O bicheiro é informado de que uma pessoa com o apelido de "Caolho" não iria mais assumir o "negócio". O bicheiro se revolta e avisa que vai mandar Demóstenes falar com Marconi Perillo.
- Então, manda quem te falou falar com o Marconi, perguntar pro Marconi se ele (Caolho) vai ou não vai assumir. É especulação... Nego não sabe bosta nenhuma... Marconi, na hora que souber disso, vai ficar puto. Já mandei avisar a ele. O Demóstenes já está ligando pro Marconi - reagiu Cachoeira.
No mesmo diálogo, Cachoeira diz que Marconi terá problemas se Caolho não for nomeado:
- Eu imaginei que fosse, né, impressão de quem quer sentar na cadeira, né? - diz Lenine.
- É. Impressão, não, burro, né? Num sabe o que que tá falando. Vai é cair a cara se eu num... O cara me indispôs com o Itamar. Falei pro Itamar, chegando lá agora, cê mede, mede força com ele, uai. Marconi vai ficar é puto. Como é que chama o cara que o Marconi já tinha indicado, o cara, rapaz. O Demóstenes já ia ligar pra ele. "Oh, Marconi, cê tá é fodido se você não pôr esse cara, aí." (...) Aí, o Marconi não vai colocar o cara, tá louco - afirmou Cachoeira.
Por volta das 18h do mesmo dia, Lenine volta a telefonar para Cachoeira. Nessa ligação, o bicheiro diz que conversou com Itamar e que o orientou a não aceitar qualquer proposta de Marconi. Segundo Cachoeira, isso deixaria Marconi insatisfeito.
- (...) Aquele trem do Itamar lá dando o maior problema aí, viu? Deixou o Marconi louco. E o Itamar agora não quer - afirmou Cachoeira.
- Eu acho o seguinte: o cara é como se diz, pra livrar o dele, empurra o dos outros, bicho... - comentou Lenine.
- Vamos ver. Agora, eu falei foi com o Itamar. "Itamar, não aceita nada, que o Marconi vai ficar louco. Conhece ele. Manda sua irmã pra P... porque depois cê vai ser exonerado em pouco tempo." Entendeu? - contou o contraventor.
Em Curitiba, o governador Marconi Perillo negou ter nomeado servidores para o seu governo por indicação de Cachoeira.
- Nunca recebi indicação dele para cargos, que em nosso governo são preenchidos por competência técnica - disse Perillo.
Segundo o governador de Goiás, se houve nomeações de pessoas indicadas por Cachoeira feitas por seus secretários, a responsabilidade é deles.
Em Brasília, a corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público abriu reclamação disciplinar para apurar se o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres, irmão do senador Demóstenes Torres, atuou junto ao MP do estado em favor de interesses de Cachoeira. Outros integrantes do MP goiano também são alvo da investigação. No fim de semana, o jornal "Correio Braziliense" publicou trechos de gravações telefônicas nos quais Demóstenes promete a Cachoeira falar com Benedito sobre investigação do Ministério Público de interesse do bicheiro. Os investigados terão 15 dias para apresentar defesa.
* Especial para O GLOBO
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 18/04/2012 03:56