Título: Obama não deve vir à conferência
Autor: Barbosa, Flavia
Fonte: O Globo, 11/04/2012, Economia, p. 27

Obama não deve vir à conferência

Em conversa com Dilma, presidente americano praticamente descarta presença

WASHINGTON. O presidente Barack Obama praticamente descartou, em conversa com a presidente Dilma Rousseff, segunda-feira, na Casa Branca, sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho. Ele alegou que os compromissos da campanha deverão impedi-lo de se ausentar do país daqui a dois meses, quando a corrida pela reeleição deverá engatar.

Na reunião de trabalho que tiveram, Dilma reforçou o convite para que Obama fosse ao Brasil, nem que para integrar apenas parte das discussões da Rio+20. Ouviu do americano que isso seria "muito difícil".

Dilma mencionou o convite em sua declaração à imprensa, no Salão Oval da Casa Branca, lembrando que o tipo de desenvolvimento que deve pautar o século XXI, com prosperidade econômica, inclusão social e proteção ambiental, é a agenda central da Rio+20. Obama não se referiu à conferência, mesmo quando ressaltou a importância da expansão do uso de energias limpas.

Na declaração final da visita oficial, a diplomacia brasileira conseguiu incluir que os presidentes "enfatizaram a importância de ampla participação no Segmento de Alto Nível da Conferência" (a reunião oficial, de 20 a 22 de junho, numa indicação de que será enviada pelos EUA delegação de primeiro escalão) e "sublinharam a importância" da Rio+20.

A presença do americano era considerada chave para as negociações, por exemplo de metas de desenvolvimento sustentável e aporte de recursos pelos países ricos. O problema de Obama e que a agenda ambiental e de mudanças de paradigmas de desenvolvimento é um tema delicado na política americana e abre brecha a ataques do Partido Republicano.

Outro tema que não apareceu na declaração conjunta mas foi debatido pelos presidentes é a situação dos palestinos. No capítulo Oriente Médio da reunião, Dilma voltou a defender a posiçao do Brasil de que a construção de um Estado Palestino soberano é fundamental para a paz na região.

Da mesma forma, apesar da negativa de Dilma, o tema Irã entrou no cardápio do encontro, com o Brasil reforçando sua posição contrária à imposição de sanções e em favor de soluções diplomáticas, para evitar a explosão de um conflito com consequências graves.

Cuba, outro assunto de divergência entre Brasil e EUA, também ocupou a pauta. Como Dilma revelou ainda na segunda-feira, ela disse a Obama que a 6 Cúpula das Américas, neste fim de semana, será a ultima sem a participação da ilha. Mas ela estendeu o tema para lembrar que o Brasil considera importante que os americanos ponham fim ao embargo econômico de 50 anos a Cuba, para permitir a recuperação econômica do país e sua integração às Américas.

Um traço marcante da conversa foi a maneira como a presidente passou a ilustrar os benefícios da parceria cada vez maior entre Brasil e EUA. Dilma enfatizou os ganhos que os americanos terão e não apenas os brasileiros. Ela lembrou que os investimentos do Brasil no setor produtivo americano já equivalem a 40% do que os EUA desembolsam na economia brasileira e salientou que e no comércio com o Brasil que os americanos tem seu sétimo maior superávit comercial.